O presidente do Equador, Daniel Noboa, foi alvo de um ataque nesta terça-feira, 7, quando chegava de carro a um evento na província de Cañar, na região central do país, segundo a Presidência equatoriana. O mandatário não se feriu, segundo a ministra da Energia, Inés María Manzano, que classificou o incidente como uma “tentativa de assassinato”.

“Às 14h41, registramos um boletim de ocorrência por tentativa de homicídio no cantão de Tambo, enquanto o presidente se preparava para participar do evento. Cerca de 500 pessoas apareceram atirando pedras, e também há marcas de bala no carro do presidente”, afirmou Manzano.
Segundo o governo, cinco pessoas foram presas no local e serão acusadas formalmente por terrorismo.
O ataque acontece em meio a um clima de tensão política e social. No domingo, Noboa decretou estado de emergência em dez províncias do país devido à escalada nos protestos indígenas contra o aumento no preço do diesel. Segundo dados oficiais, as manifestações resultaram em cerca de 150 feridos, mais de 100 prisões e uma morte.
De acordo com a publicação, feita pelo perfil oficial da presidência no X, a medida terá vigência de 60 dias e mobilizará agentes das Forças Armadas e da Polícia Nacional. As províncias afetadas são Pichincha — onde se localiza a capital do país, Quito —, Cotopaxi, Tungurahua, Chimborazo, Bolívar, Cañar, Azuay, Orellana, Sucumbíos y Pastaza.
O decreto suspendeu o direito à liberdade de reunião nas dez províncias citadas, o que restringe a formação de aglomerações em espaços públicos. Quito afirma que as manifestações “pacíficas” seguem permitidas, desde que não afetem “os direitos, liberdades e garantias do restante da população”. Noboa vem usando decretos como esse desde o início de 2024, quando uma onda de violência de gangues se abateu sobre o país. Desde então, ele se reelegeu com uma campanha baseada na questão da segurança.
A declaração foi feita após o Tribunal Constitucional anular parcialmente, na sexta-feira 3, um estado de emergência declarado dias atrás pelas mesmas razões. A corte declarou válida a medida somente nas províncias de Carchi, na fronteira com a Colombia, e Imbabura, no norte do país.
Em resposta à decisão, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, a Conaie, que tem coordenado os protestos, afirmou que o governo “responde com repressão às demandas do povo” e que o decreto “militariza os territórios indígenas”. Considerada a maior organização indígena do país, a entidade vem bloqueando estradas em diferentes regiões do país desde o dia 22 de setembro.
“Este estado de emergência agrava o risco de uso desproporcional da força e detenções arbitrárias”, disse a Conaie. O líder da organização, Marlon Vargas, havia declarado no sábado 4 que “se tivermos que tomar a cidade de Quito, vamos tomá-la”.
No domingo, Noboa respondeu à afirmação, dizendo que “ninguém pode vir e tomar à força a capital de todos os equatorianos”. O mandatário frisou que “àqueles que escolhem a violência, a lei os espera. Aqueles que agem como criminosos serão tratados como criminosos”.
Repressão
Os protestos tiveram início após Quito determinar a retirada do subsídio ao diesel vigente no país, fazendo o preço do combustível saltar de US$ 1,80 para US$ 2,80 (cerca de R$ 9,60 para R$ 14,93). A Conaie aponta que o aumento de 56% no valor do diesel é um golpe econômico na população camponesa.
Segundo a Anistia Internacional, há relatos de que a Procuradoria-Geral da República tenha aberto inquéritos supostamente abusivos contra manifestantes e líderes de movimentos sociais, além de outras práticas apontadas como problemáticas que envolvem desaparecimentos forçados e críticas ao Tribunal Constitucional. Na sexta-feira 3, a ONG emitiu um alerta para o aumento da repressão por parte de Quito.
“A repressão aos protestos, os ataques ao Tribunal Constitucional e a insistência em uma estratégia de segurança militarizada colocam o Equador na lista de países da região que estão experimentando um aumento preocupante de práticas autoritárias”, declarou a diretora da Anistia Internacional para as Américas, Ana Piquer.
As manifestações se tornaram particularmente violentas na província andina de Imbabura. Localizada ao norte do país, o local concentra 10% da população indígena equatoriana e tem sua economia voltada para a floricultura e a pecuária. Até o momento, é estimado que as manifestações tenham causado perdas na casa de US$ 1 milhão por dia para a província.