O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartou realizar testes nucleares subterrâneos, comuns na Guerra Fria (1947-1991), durante comentários a repórteres nesta sexta-feira, 31. Há dois dias, o republicano instruiu o Departamento de Guerra dos EUA, como o Departamento da Defesa foi renomeado, a retomar imediatamente os testes nucleares e disse que a ordem foi motivada por programas “de outros países”. A decisão foi condenada pela Rússia, que prometeu “agir de acordo”, e gerou advertências da China.
“Vocês descobrirão muito em breve, mas vamos realizar alguns testes”, afirmou Trump a bordo do Air Force One, que voava para Palm Beach, na Flórida, após ser questionado sobre testes nucleares subterrâneos. “Outros países fazem isso. Se eles vão fazer, nós também vamos fazer, ok?”
Em viagem à Malásia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, argumentou que a retomada dos testes era uma “forma muito responsável” de manter a dissuasão nuclear. Os exercícios serão conduzidos pelo Pentágono em parceria com o Departamento de Energia, informou ele, acrescentando: “Estamos nos movendo rapidamente”. Nenhuma potência nuclear, com exceção da Coreia do Norte, realizou testes nucleares explosivos em mais de 25 anos.
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Panorama nuclear
Rússia e EUA, juntos, possuem cerca de 90% de todas as armas nucleares. O tamanho de seus respectivos estoques militares (ou seja, ogivas utilizáveis) parece ter permanecido relativamente estável em 2024, mas ambos os países estão implementando extensos programas de modernização, que podem aumentar o tamanho e a diversidade de seus arsenais no futuro.
Segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), divulgado em junho, os Estados Unidos detém cerca de 5.328 ogivas, enquanto a Rússia é dona de 5.580. Em sequência, na lista, ficam China (500), França (290), Reino Unido (225), Índia (172), Paquistão (170), Israel (90) e Coreia do Norte (50).
Mesmo atrás, a China tem o arsenal nuclear com crescimento mais rápido entre todos os países, com cerca de 100 novas ogivas por ano desde 2023. Até janeiro de 2025, já havia concluído ou estava perto de concluir cerca de 350 novos silos de ICBM em três grandes campos desérticos no norte do país e três áreas montanhosas no leste. Ainda que Pequim atinja o número máximo projetado de 1.500 ogivas até 2035, o número representará apenas um terço de cada um dos atuais estoques nucleares de Moscou e de Washington.
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Alertas da Rússia e China
Em resposta à ordem do líder americano, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, advertiu que se alguém abandonar a moratória, a Rússia agirá de acordo”. “O presidente Trump mencionou em sua declaração que outros países estão envolvidos em testes de armas nucleares. Até agora, não sabíamos que alguém estivesse realizando testes”, afirmou ele, negando que exercícios militares russos realizados ao longo da semana faziam parte de uma ofensiva nuclear.
Na quarta-feira, 29, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que Moscou testou com “enorme sucesso” o torpedo submarino Poseidon, que tem capacidade nuclear. Embora existam poucos detalhes confirmados sobre o Poseidon, nomeado em homenagem ao antigo deus grego do mar, analistas militares afirmam que trata-se, em essência, de um híbrido entre um torpedo e um drone capaz de devastar regiões costeiras ao desencadear vastas ondas oceânicas radioativas.
Por sua vez, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, salientou que o país espera que os EUA “adotem medidas concretas para preservar o sistema mundial de desarmamento e não proliferação nuclear e para manter o equilíbrio e a estabilidade estratégica mundiais”. Pequim também apelou para que Washington “respeite seriamente o compromisso de proibir testes nucleares”.