Os bolivianos vão às urnas para escolher seu próximo presidente neste domingo, 17, e a última pesquisa de opinião antes do pleito revelou duas conclusões claras. A primeira é a projeção de um segundo turno entre os candidatos direitistas, hoje na oposição: Jorge “Tuto” Quiroga (Liberdade e Democracia) e Samuel Doria Medina (Unidade Nacional). A segunda é o altíssimo percentual — de 23% — de votos indecisos, em branco e nulos, algo incomum nesta fase da disputa.
Segundo levantamento AtlasIntel divulgado nesta sexta-feira, 15, Quiroga lidera a corrida com 22,3% das intenções de voto, seguido de perto por Medina (18%). O principal nome no campo da esquerda, Andrónico Rodriguez (Aliança Popular), aparece com 11,4% de apoio – menos do que a parcela dos que dizem que vão anular ou votar em branco (14,6%).
Outros 8,4% afirmam que ainda não sabem em quem vão votar, mais do que a porcentagem que pretende votar no candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do atual presidente, Luis Arce, e do ex-presidente Evo Morales, que continua influenciando a política na Bolívia.
- Jorge “Tuto” Quiroga (Liberdade e Democracia)
- Samuel Doria Medina (Unidade Nacional): 18%
- Branco/nulo: 14,6%
- Andrónico Rodriguez (Aliança Popular): 11,4%
- Não sabe: 8,4%
- Eduardo del Castillo (MAS): 8,1%
- Rodrigo Paz Pereira (Comunidade Cidadã): 7,5%
- Manfred Reyes Villa (Autonomia para Bolívia): 4%
- Pavel Aracena (Liberdade e Progresso ADN): 3,1%
- Johnny Fernández (Aliança Força do Povo): 2,6%
Se essas previsões se confirmarem, a Bolívia terá um segundo turno, marcado para 19 de outubro, pela primeira vez desde que foi introduzido na Constituição, em 2009. O Congresso, porém, já estará configurado – segundo outras pesquisas, com um bloco majoritário de direita pela primeira vez em 20 anos.
Descontentamento com o governo Arce
A força da direita se conecta ao descontentamento da população com o governo esquerdista do atual presidente, Luis Arce, que desistiu da reeleição em maio deste ano. Ele apresentou a decisão como uma forma de contornar a polarização, mas, enfrentando uma crise econômica grave no país, causada pela escassez de dólares e combustíveis, que resultou em protestos, suas chances de conquistar um novo mandato de cinco anos eram praticamente nulas.
De acordo com a pesquisa AtlasIntel, impressionantes 75% dos bolivianos desaprovam a gestão Arce, enquanto 9,8% aprovam e 15,2% se disseram indecisos. Além disso, 68,4% qualificaram o atual governo de “ruim” ou “muito ruim”; 22,6% classificaram-no como “regular” e apenas 9,1% como “excelente” ou “bom”.
O levantamento foi realizado com uma amostra de 1.916 entrevistados, com uma margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%. Pesquisas de opinião na Bolívia, porém, têm sido historicamente imprecisas. Nas eleições de 2020, por exemplo, subestimaram o apoio a Arce em uma média de quase 13 pontos percentuais — uma das maiores falhas da América Latina, segundo um estudo do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag).
Possível surpresa para a esquerda
Sobre o pleito atual, analistas apontam que a porcentagem sem precedentes de eleitores indecisos, ou daqueles que pretendem anular o voto, pode esconder o apoio ao esquerdista Andrónico Rodríguez. Essas mesmas categorias de eleitores foram apontadas como decisivas na vitória de Arce em 2020.
Seria uma reviravolta para Rodríguez, que recentemente viu seu apoio cair nas pesquisas. Ele vem enfrentando dificuldade de angariar apoio da esquerda e dos movimentos populares, enquanto não conseguiu escapar da sombra do MAS, que a população culpa pela atual crise econômica e institucional em meio a um racha devido às brigas entre Arce e Evo. Rodríguez foi presidente do Senado no atual governo.
Segundo a pesquisa AtlasIntel, os principais problemas que os eleitores enxergam na Bolívia são corrupção (62,1%), hiperinflação e escassez de produtos (39,3%), crise energética e falta de combustível (38,7%) e crise social (35,5%). A taxa anual de inflação subiu para 24% em junho, em meio à queda na produção de gás natural — e, consequentemente, nas exportações dessa importante fonte de renda —, o que provocou uma escassez de dólares americanos, tornando mais difícil e caro para o país importar gasolina, diesel e alimentos. Isso gerou escassez de produtos e aumento de preços, alimentando protestos de rua em todo o país.