O escritório do Procurador-Geral de El Salvador declarou que 248 membros da notória organização criminosa Mara Salvatrucha, a MS-13, receberam ‘sentenças exemplares’ por inúmeros crimes, incluindo homicídios e desaparecimentos. As informações foram divulgadas no domingo, 21, e incluem a condenação de um homem por mais de mil anos, enquanto outros dez receberam penas estimadas em centenas de anos.
Segundo as autoridades, os envolvidos foram condenados por homicídio qualificado, desaparecimento de pessoas, feminicídio qualificado, extorsão, planejamento e conspiração de homicídio, atos preparatórios de tráfico ilícito, ocupação ilegal de imóveis e associação criminosa. Os crimes teriam acontecido entre 2014 e 2022, no Departamento de La Libertad, tendo como vítimas 169 pessoas.
“As investigações apontam que esses indivíduos estabeleceram bases em diferentes setores, que utilizavam para planejar todos os atos criminosos na região, incluindo a extorsão de vítimas proprietárias de empresas, exigindo diversas quantias em dinheiro para não lhes causar danos. Algumas pessoas tiveram que fechar seus negócios por medo das ameaças”, afirma uma publicação da Procuradoria na rede social X.
#CombateAPandillas | La @FGR_SV ha logrado condenas ejemplares de hasta 1,335 años de cárcel para 248 pandilleros de la clica TLS de la MS, por delitos cometidos entre el 2014 al 2022 en La Libertad en perjuicio de 169 víctimas.
Entre los graves hechos que estos criminales… https://t.co/SRsuvHYanW pic.twitter.com/MPL4x29NJW
— Fiscalía General de la República El Salvador (@FGR_SV) December 21, 2025
Entre os crimes graves citados estão o desaparecimento e assassinato dos irmãos Karen e Eduardo Toledo, em dezembro de 2021; o desaparecimento e feminicídio da jogadora de futebol Claudia Granados, em outubro de 2021; o desaparecimento e assassinato de um estudante da Universidade Centro-Americana (UCA) em 2019; e o desaparecimento e assassinato de um aluno pertencente a um instituto nacional em 2020.
A extensão de algumas sentenças chama a atenção, sendo a mais expressiva aquela atribuída a Marvin Abel Hernández Palácios, que recebeu 1.335 anos de pena. Outras dez pessoas receberam penas entre 463 e 958 anos. Não se sabe quando as sentenças foram proferidas, nem se os acusados foram julgados em massa.
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Originada nas ruas de Los Angeles, a MS-13 é apontada — junto de outra gangue, a Barrio 18 — como responsável pela morte de aproximadamente 200 mil pessoas em 30 anos. Ambas chegaram a controlar 80% do país e impunham um regime de terror a muitos salvadorenhos. No entanto, o impacto das organizações foi severamente reduzido desde que o presidente Nayib Bukele chegou ao poder, em 2019.
Com uma retórica voltada para a repressão ao crime organizado, Bukele teve sucesso em reduzir o número de homicídios no país de 107 para 2,4 a cada 100 mil habitantes, promovendo a prisão de 78 mil pessoas acusadas de associação ao crime. Isso garantiu taxas altas de popularidade ao mandatário, embora o cenário do regime salvadorenho cause preocupações para analistas no que diz respeito ao desrespeito aos direitos humanos e à deterioração da democracia no país.
Em 2022, Bukele teve sucesso em estabelecer um regime de exceção que suspendia os direitos estabelecidos pela constituição durante o período de 30 dias. No entanto, o decreto passou a ser prolongado de forma constante, permitindo ao governo empreender prisões sem mandatos. Muitos dos detidos são enviados ao Centro de Confinamento do Terrorismo, o Cecot, uma megaprisão de segurança máxima que confina 15 mil membros de gangues, grande parte destes sem direito ao devido processo legal, segundo denúncias de organizações humanitárias.