Segundo dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025, recém-lançado pela ONG Todos pela Educação, Editora Moderna e Fundação Santillana, ainda estamos longe da meta de inserir 50% das crianças de 0 a 3 anos na escola, estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024. O índice atual é de 41,2% e a questão que fica é: atingir a meta será suficiente para avançarmos na Educação Infantil?
Ainda hoje, a discussão sobre Educação Infantil no Brasil se restringe a falta de vagas e a metas de quantidade de crianças atendidas. Uma narrativa que Eduardo de Campos Queiroz, diretor-presidente da Fundação Bracell, quer mudar.
“Pesquisas mostram que uma creche de má qualidade pode ser prejudicial à criança. O que eu gostaria é que esses 41,2% estivessem em creches de muita qualidade”, diz ele, em entrevista à coluna, colocando o foco numa questão fundamental que começa a ser discutida no país: a qualidade da Educação Infantil. Assunto que é, inclusive, o tema central do 2º Simpósio Internacional de Educação Infantil, que acontece hoje, 7/10, em São Paulo, em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e diversas organizações ligadas à primeira infância (etapa que vai de 0 até 6 anos de idade).
OS GANHOS DE UMA EDUCAÇÃO INFANTIL DE QUALIDADE
Segundo o diretor-presidente da Fundação Bracell, estudos indicam que crianças que frequentam creches e pré-escolas de qualidade precisam menos de reforço escolar, repetem menos, apresentam maiores taxas de conclusão do ensino médio e de acesso à educação superior. Também têm melhor desempenho em português e matemática e maior renda, no futuro.
Para Queiroz, é importante que a qualidade possa ser medida para que o Brasil consiga, finalmente, avançar nessa área. “Os países desenvolvidos fazem isso, mas aqui ainda há resistência. “Não há um retrato da qualidade da Educação Infantil como temos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio”, critica.
Medir a qualidade da Educação Infantil significa, entre outras coisas, verificar aspectos como a interação entre a criança e o professor ou cuidador e a intencionalidade das brincadeiras realizadas. “Resultados internacionais mostram que a criança que tem esse brincar com intencionalidade vai ser alfabetizada melhor, vai aprender matemática melhor”, reforça. “É importante saber como essa criança está chegando no ensino fundamental, se o trabalho foi bem-feito Precisamos olhar a questão da vaga, mas temos que trabalhar urgentemente a qualidade.”
A publicação das Diretrizes Operacionais Nacionais de Qualidade e Equidade para a Educação Infantil pelo Ministério da Educação, em 2024, foi, segundo ele, um passo importante nesse sentido, mas agora é preciso fazer com que esses parâmetros cheguem efetivamente na ponta. “Senão, é mais um documento”, afirma, alertando ainda para a importância da capacitação dos profissionais da Educação Infantil.
De acordo com o Anuário da Educação Básica 2025, 20,5% dos professores de creche e 17,4% dos professores de pré-escola não têm ensino superior. No Ensino Fundamental e Médio, o percentual de profissionais com esse perfil é bem mais baixo: 8% (Ensino Fundamental – Anos Finais) e 4% (Ensino Médio).
Eduardo Queiroz defende a priorização da Educação Infantil no novo PNE. As discussões no Congresso Nacional que vão definir os rumos da educação no país nos próximos dez anos não podem deixar de levar em conta a importância e a urgência da qualidade desta etapa tão fundamental para o presente e o futuro das nossas crianças.
* Jornalista e diretora da Cross Content Comunicação. Há mais de três décadas escreve sobre temas como educação, direitos da infância e da adolescência, direitos da mulher e terceiro setor. Com mais de uma dezena de prêmios nacionais e internacionais, já publicou diversos livros sobre educação, trabalho infantil, violência contra a mulher e direitos humanos. Siga a colunista no Instagram.