Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), discursou nesta sexta-feira, 22, em Jackson Hole, em Wyoming, durante o simpósio econômico que reúne autoridades e economistas do mundo todo. A fala do chefe da política monetária americana foi interpretada como sinal de possível corte de juros já na reunião de setembro.
O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, que acompanhou o encontro no local, avaliou que o discurso foi marcado pelo reconhecimento dos riscos à economia americana. “O Powell enfatizou que o balanço de riscos, com as incertezas econômicas e seus impactos sobre inflação e emprego, continua muito elevado. Ainda assim, sua fala sugere que o Fed vê a inflação como potencialmente temporária e que os riscos de desaceleração do mercado de trabalho aumentaram”, disse.
Para William, o foco no mercado de trabalho foi a principal mensagem do simpósio. “Esse foco maior nos riscos de uma desaceleração foi lido como sinal de que o Fed está receoso com uma aceleração maior da economia que possa impactar o mercado de trabalho e antecipar um corte de juros. Essa foi a interpretação do mercado”, afirmou William.
Ele ainda acrescentou que Powell também voltou a levantar o risco de estagflação. “O mercado de trabalho, segundo ele, segue forte, a economia resiliente, mas os riscos negativos aumentaram. Além disso, tarifas podem reacender a inflação e levar a um cenário de estagflação”, explicou.
Reação dos mercados
O estrategista também destacou a reação imediata dos mercados. “Como reflexo de tudo isso, estamos vendo o dólar caindo forte, tanto no índice global quanto frente ao real, enquanto as bolsas comemoram um discurso que pode ser considerado mais dovish (postura mais favorável a taxas de juros mais baixas e menor preocupação com a inflação). Os yields (rendimento obtido a partir de determinado investimento) de curto prazo também cederam bem, reforçando a expectativa de cortes”.
Segundo William, havia temor de que o Fed pudesse adotar um tom mais duro, diante da resiliência da economia americana nas últimas semanas. “Até os últimos dias havia receio de que Powell não viesse com esse discurso mais cauteloso. Mas, no fim, a sinalização foi clara e abriu espaço para um início de afrouxamento monetário”, completou.