Kiribati é um daqueles países que precisam de lupa para ser encontrado em um globo terrestre. Suas 33 ilhas, localizadas no meio do Pacífico, são tão pequenas que são representadas por pequenos pontinhos. Na vida real, 20 delas abrigam 130 000 pessoas, que sofrem todos os dias os efeitos das mudanças climáticas. O aumento do nível dos oceanos, decorrente do aquecimento da Terra e do consequente derretimento dos pólos, tem inundado as áreas de terra firme e operado como uma borracha que pode simplesmente apagá-las do mapa. Presentes na COP30 junto com outras nações-ilha, seus representantes fazem apelos constantes para que o mundo gaste menos tempo em discussões e mais em ações concretas, principalmente no que diz respeito aos recursos para adaptação. VEJA conversou com Robert David Karoro, coordenador nacional da Kiribati Climate Action Network, organização ligada ao governo local.
Como as mudanças climáticas estão afetando o Kiribati? O impacto é diário. Vivemos em ilhas muito baixas, o ponto mais alto da nossa capital, e da maioria das ilhas, tem apenas 3 metros acima do nível do mar. Com o aumento das marés e das ressacas, temos observado nossa terra ser engolida diante dos olhos. As casas estão sendo destruídas. O terreno onde eu costumava brincar quando criança, os coqueiros em que eu subia para pegar cocos… Tudo isso está desaparecendo. É assim que as mudanças climáticas se manifestam, de forma muito real, na nossa região.
Esse tipo de problema afeta qual parcela da população? Praticamente 100%. As ilhas são muito estreitas. Então, não há para onde fugir. As pessoas fazem o que podem para enfrentar as ressacas. Mesmo aqueles que vivem mais para o interior sofrem, porque as fontes de água doce estão sendo contaminadas pela intrusão do mar, tornando-se salobras. Então, isso atinge todos.
Como a população está fazendo para se adaptar a esse contexto? As pessoas desenvolvem projetos comunitários para combater esses impactos que, aliás, não foram causados por elas. Uma das iniciativas mais comuns é o programa de engajamento de jovens para plantar manguezais nas linhas costeiras, já que não podemos nos dar ao luxo de construir muros de concreto ou barreiras marítimas, algo muito caro para nossas ilhas. Esse tipo de vegetação tem se mostrado muito eficaz, porque reduz o impacto das ondas que avançam e destroem a terra.
Qual futuro o senhor vislumbra para o seu país? Creio que temos de permanecer em nossa terra, porque é o lugar com o qual nosso povo se identifica. Nos deslocar para outro lugar criaria ainda mais problemas. O futuro que desejo para o meu povo é que sejamos mais resilientes diante dos impactos das mudanças climáticas. É importante que o mundo entenda isso e ajude a garantir que nosso povo não tenha de sair de suas terras por causa de algo que não causou.
Como vê o trabalho das COP’s até esse momento? Há progresso, como já foi dito, mas ele é lento. E isso ocorre porque nós o tornamos lento. Chegamos as Acordo de Paris, mas não a um compromisso. Não dá para simplesmente concordar com algo e deixar por isso mesmo. É aí que as coisas emperram, porque não há ação acompanhando os tratados. Cada número que acrescentamos a uma COP significa que fracassamos naquele ano. Já são 30 anos fracassando. Por quanto tempo mais seguiremos fracassando? Espero que as ações sejam tomadas e que isso não seja mais objeto de tanto debate ou negociação.