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Dubladores x IA: o principal receio dos profissionais

Em eventos recentes de tecnologia, grandes nomes na direção dos streamings têm visto com bons olhos o uso de IA para a dublagem de filmes, séries e desenhos. Eles justificam que o uso da tecnologia acelera processos e reduz custos. Porém, do outro lado da balança, os dubladores se sentem cada vez mais ameaçados. A coluna GENTE falou com três artistas, atores em dublagem, sobre as mudanças na profissão e o receio de uma dominação dos robôs. 

Para Angélica Santos, co-fundadora e representante do Movimento Dublagem Viva no Brasil, voz do Cebolinha de Turma da Mônica, Angelina Jolie e Cameron Diaz, em muitas produções, o uso da inteligência artificial na dublagem tem um impacto direto e preocupante. “A IA pode simular vozes humanas com uma precisão cada vez maior, o que abre espaço para que empresas busquem soluções mais rápidas e baratas, muitas vezes em detrimento da qualidade artística, da ética e dos direitos dos profissionais. O maior problema é que, quando a tecnologia é usada sem consentimento e sem regulamentação, ela desvaloriza o ofício do dublador, ignora sua interpretação, suas nuances emocionais e, muitas vezes, utiliza sua própria voz sem autorização. Isso não é inovação, é violação de direitos. Me sinto ameaçada, não pela tecnologia em si, mas pela forma como ela está sendo implementada. A regulamentação do uso de IA na dublagem já está sendo debatida, e felizmente temos movimentos sérios e comprometidos à frente dessa luta. A Dublagem Viva, por exemplo, vem se posicionando com firmeza contra o uso indiscriminado de vozes sintetizadas, defendendo o trabalho artístico e humano dos dubladores. Há Projetos de Lei (PLs) em andamento, que estamos acompanhando e tentando dialogar para proteger os artistas. Precisamos ter transparência, consentimento e remuneração: esses são os três pilares inegociáveis para qualquer uso da voz por IA. A tecnologia pode ser aliada, mas jamais pode ignorar que por trás de uma voz há um artista, uma história e uma identidade que precisam ser respeitadas. Isso não é pedir demais, é o mínimo diante da ameaça que estamos enfrentando”, explica Angélica Santos.

Jorge Lucas, voz de Ben Affleck, Rupaul, Vin Diesel e Johnny Depp em diversos filmes, afirma que o uso cada vez maior da IA já está interferindo no trabalho dos dubladores. Mesmo assim, não acredita em uma substituição. “Por mais que a IA evolua, não creio que vá atingir um nível de humanidade, um nível de naturalidade, um nível de emoção que apenas nós, atores em dublagem, dubladores, dubladoras, atrizes em dublagem, seres humanos, artistas com alma de artista, porque para fazer arte tem que estar viva essa arte. Para tocar outro ser humano, necessariamente tenho que ser humano. A regulamentação tem que existir, a classe artística no mundo inteiro já está se movimentando para isso há bastante tempo. A minha voz é minha, a minha voz não é de uma máquina. Se querem copiar o timbre da minha voz, o tom das minhas inflexões, me paguem”, defende Jorge.

Carla Pompilio, voz de Meryl Streep, Cate Blanchett e Nala do Rei Leão, reforça a ideia de Jorge. “Por mais que venha a tecnologia que transforme, de repente, a minha voz em vários idiomas. Em japonês, em italiano, em espanhol, a emoção brasileira, a adaptação brasileira, porque dublagem não é tradução, dublagem é uma versão. Por mais que seja um país continental, com vários mundos dentro desse Brasil, a gente tem uma coisa muito característica que é nossa, que define a gente como povo. Não vai substituir a emoção. Existe todo um trabalho muito grande por trás quando a gente vai dublar alguma coisa. É a nossa interpretação, nossa vivência e a nossa brasilidade que está entrando”, completa Carla.

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