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Dokdo: a ilha onde o mar sussurra histórias de resistência em busca da paz

Milena Abreu, brasileira, repórter Global da Ilha de Dokdo, mestranda em Tecnologia da Educação na Universidade de Konkuk, em Seul

Mais do que um ponto no mapa, a Ilha de Dokdo carrega consigo grandes marcas da sofrida história coreana. Ela é também um símbolo vivo de resistência coreana, e um lembrete de que a dor pode, um dia, se transformar em serenidade. Quando se fala da Coreia do Sul, é comum que nós, brasileiros, pensemos logo no K-pop, nos K-dramas, na skincare e nas comidas tradicionais que hoje dominam as redes sociais. Mas, por trás do brilho da cultura pop, existe um país de memórias profundas, um lugar que aprendeu a se reerguer após períodos de dor e ocupação. E talvez não haja símbolo mais forte dessa história do que a pequena, mas poderosa, Ilha de Dokdo.

Além de ter sofrido diversas invasões por diferentes países – já que afinal a Coreia tem localização estratégica para entrar em territórios como China, Manchúria e Rússia –, o país já foi alvo de ocupação por parte do Japão, um período que deixou a região marcada por feridas históricas que ainda ecoam. Durante 48 anos, a ilha foi injustamente tomada como território japonês pela invasão forçada iniciada em 1905, durante a Guerra Russo-Japonesa. Entre 1910 e 1945, a península coreana viveu sob domínio japonês, passando por um processo de repressão cultural e tentativa de apagamento de sua identidade. Foi somente em 1953, com o Tratado de São Francisco, que Dokdo, um conjunto de rochedos cercado por águas azul-escuras no Mar do Leste, voltou a ser reconhecida como território coreano, como sempre foi. Desde então, o pequeno território virou símbolo da resistência coreana, e cada visita à ilha é um lembrete silencioso de que, apesar das cicatrizes, a liberdade e a dignidade de um povo podem prevalecer.

Brasileira, Milena Abreu, mestranda da Universidade de Konkuk, visita a ilha de Dokdo a convite do governo sul-coreano
Brasileira, Milena Abreu, mestranda da Universidade de Konkuk, visita a ilha de Dokdo a convite do governo sul-coreanoMilena Abreu/.

Enquanto outros lugares da história coreana evocam lembranças de dor, Dokdo transmite algo diferente: serenidade. O vento que sopra entre suas rochas parece repetir que o sofrimento passou. Para quem vem do Brasil, é impossível não traçar um paralelo – afinal, também vivemos sob séculos de domínio estrangeiro, com Portugal ditando os rumos de nossa formação. Se o grito da Independência brasileira ecoou às margens do Ipiranga, o da Coreia ressoa nas ondas que circundam Dokdo.

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Minha viagem até a ilha, à convite do governo coreano pelo programa de Repórteres Globais de Dokdo 2025, foi mais do que uma travessia marítima: foi um mergulho na história viva da Coreia do Sul. O mar era intenso, o vento forte, e havia uma paz quase solene no ar. Poder olhar a ilha de perto, pisar em suas rochas, caminhar por suas trilhas e observar as flores Haeguk balançando com o vento é sentir que o tempo desacelera, e que cada pedra carrega a memória de quem resistiu. A paz que a pequena ilha transmite vai de leste a oeste, trazendo a sensação de que o mundo pode superar as dificuldades e se tornar um lugar melhor, assim como Dokdo se tornou.

Os coreanos veem Dokdo não apenas como uma ilha, mas como um símbolo de sua soberania, especialmente diante das constantes reivindicações territoriais do Japão, que muitos interpretam como uma extensão do passado colonial. Para que haja paz mundial, as

antigas potências coloniais precisam cultivar a disposição de caminhar lado a lado com os seus vizinhos. Lembrar Dokdo é, portanto, reafirmar que a história não pode ser esquecida, e que a verdadeira paz só é possível quando há respeito e reconciliação entre os povos.

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A Ilha de Dokdo me ensinou que um país não é apenas um território: é a soma das suas cicatrizes, da sua coragem e da sua lembrança. E que, para que haja paz, é sempre preciso lembrar da dor. Dokdo não é apenas uma ilha. É a voz da Coreia dizendo ao mundo: nós resistimos, nós existimos, e nós vencemos – alcançamos a paz, e daqui podemos espalhar essa energia para outros cantos, assim como as pétalas das flores são levadas pelo vento e desaparecem no mar.

Dokdo
DokdoMilena Abreu/.
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