O uso recreativo de medicamentos para disfunção erétil, como o que tem ocorrido com a tadalafila ou da “tadala” (como foi apelidada), levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a divulgar nesta sexta-feira, 5, um alerta sobre os riscos à saúde da utilização sem prescrição médica dessa substância e de remédios como ildenafila,vardenafila, udenafila e lodenafila. O uso indiscriminado está relacionado a eventos graves, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), alterações na pressão arterial, além de perda de visão ou audição.
A tadalafila está no centro de uma perigosa moda entre jovens para impulsionar a energia sexual e o ânimo nas academias, usos que estão fora das indicações em bula e, no caso da performance física, não tem comprovação científica. Reportagem de VEJA mostrou que o consumo estava turbinando a folia durante o carnaval deste ano.
O que mais preocupa os especialistas é que este medicamento costuma ser ingerido pelos jovens em festas com álcool e drogas. Além dos riscos à saúde não previstos com essa combinação, eles ficam mais expostos a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e acidentes ao fazer misturas e abuso de substâncias.
“O uso recreativo e sem supervisão médica de medicamentos ou formulações contendo sildenafila, tadalafila, vardenafila, udenafila e lodenafila tem se disseminado no Brasil, principalmente pelas redes sociais, motivado pela busca estética em academias e de forma recreativa como adjuvante da performance física e para a melhoria do desempenho sexual. O uso para fins estéticos não possui comprovação de eficácia e segurança e, assim como o uso recreativo com substâncias ilícitas, pode levar a eventos adversos graves, tanto conhecidos como desconhecidos”, diz a agência.
No ano passado, a tadalafila foi o terceiro medicamento mais vendido do país, totalizando 31,4 milhões de caixas comercializadas.
A Anvisa destacou também o comércio irregular de produtos que contêm esses princípios ativos, como gomas e suplementos, formulações que prometem ganho de massa muscular ou melhor desempenho sexual, mas que não têm aprovação para esses fins. Em maio deste ano, a Anvisa proibiu a fabricação e comercialização das balas de goma “Metbala”, que continham o medicamento tadalafila.
“Essas substâncias são aprovadas como medicamentos de venda sob prescrição médica e não podem constar da lista de composição de produtos enquadrados em outras categorias de produtos, como os suplementos alimentares”, informou, em nota, a agência.
Riscos da ‘tadala’
No alerta, a Anvisa explica que os medicamentos indicados para disfunção erétil só devem ser utilizados com prescrição médica por serem compostos por substâncias que “apresentam sérios riscos quando utilizadas fora das indicações da bula aprovada, em combinação com outros medicamentos como anti-hipertensivos ou substâncias ilícitas, ou em formulações não autorizadas pela Anvisa, expondo os indivíduos a riscos clínicos e psicológicos significativos”. Os pacientes podem apresentar:
- Eventos cardiovasculares graves, incluindo infarto do miocárdio, morte súbita cardíaca, acidente vascular cerebral (derrame cerebral), dor no peito, palpitações e taquicardia (batimento cardíaco acelerado)
- Hipotensão (diminuição da pressão sanguínea), principalmente se o paciente toma medicamentos para hipertensão. Estes medicamentos são contraindicados para o uso com nitratos devido ao risco de hipotensão grave
- Hipertensão (aumento da pressão sanguínea) e desmaio
- Ereção dolorosa e prolongada com mais de 4 horas de duração
- Diminuição ou perda repentina da visão ou audição (às vezes com zumbido nos ouvidos e tontura)
- Dor de cabeça
- Vermelhidão facial
- Congestão nasal
- Tontura
- Indisposição estomacal
A Anvisa relembrou também um dado da Sociedade Brasileira de Urologia, que informa que, embora não cause dependência química, esse tipo de medicamento pode causar o desenvolvimento de dependência psicológica, “especialmente quando usado repetidamente para melhorar o desempenho sexual ou físico. Isso leva o indivíduo a condicionar sua confiança à medicação, o que pode afetar negativamente a saúde mental e sexual”.