Os Estados Unidos divulgaram na quinta‑feira um novo relatório sobre os preços ao consumidor que mostrou um avanço anual de 2,7% no Índice de Preços ao Consumidor (CPI) em novembro de 2025, abaixo das expectativas de mercado e em queda em relação aos 3,0% de setembro.
Os números vieram logo após uma paralisação histórica do governo federal, que durou 43 dias, interrompendo a coleta de dados de outubro e obrigando o Bureau of Labor Statistics a estimar parte das estatísticas, o que levanta dúvidas sobre a precisão dos resultados.
Analistas financeiros e grandes veículos internacionais apontam que a inflação “moderada” pode ser apenas um artefato estatístico causado pela ausência de dados reais durante outubro, especialmente no setor de habitação, onde custos foram registrados como estáveis por falta de coleta. Essa distorção tende a subestimar a pressão inflacionária sentida pelos consumidores.
A própria divulgação oficial confirma que relatórios importantes, como o CPI de outubro e algumas pesquisas de emprego, foram cancelados ou reorganizados devido ao shutdown, prejudicando a continuidade das séries históricas.
Mesmo com a inflação anual abaixo das projeções, a percepção popular contrasta com os números oficiais: famílias norte‑americanas relatam dificuldades crescentes para pagar itens essenciais como alimentos, energia e serviços básicos.
Pesquisas de opinião mostram que os preços altos continuam a corroer o orçamento das famílias e a impactar negativamente a popularidade do presidente Donald Trump, especialmente no que diz respeito ao custo de vida.
No mercado de trabalho, o relatório também trouxe sinais mistos. Os EUA perderam 105 mil empregos em outubro e recuperaram 64 mil em novembro, segundo dados revisados, enquanto a taxa de desemprego subiu para 4,6% — o nível mais alto em quatro anos.
O Federal Reserve (Fed) respondeu cortando a taxa básica de juros três vezes em 2025, para o intervalo de 3,50% a 3,75%, numa tentativa de apoiar o fraco mercado de trabalho. No entanto, autoridades do banco central alertaram que decisões futuras dependerão de dados mais confiáveis, diante dos efeitos da paralisação do governo sobre indicadores econômicos.
Politicamente, o impacto desses números é significativo. Com a inflação persistente acima da meta de 2% do Fed e sem quedas consistentes nos preços como prometido pelo presidente, a confiança dos eleitores na gestão econômica preocupa a Casa Branca, refletindo em índices de aprovação em queda, especialmente sobre o tema custo de vida.
Em resumo, embora o CPI de novembro aponte uma desaceleração dos preços em termos anuais, economistas e jornalistas destacam que os efeitos da paralisação e a fraca geração de empregos indicam que a economia americana ainda enfrenta desafios estruturais, com inflação que pesa no bolso dos consumidores e incertezas sobre a trajetória das taxas de juros e do crescimento econômico.