Torto Arado, livro inaugural da Trilogia da Terra, de Itamar Vieira Jr, que acaba de confirmar a data do lançamento do último livro, conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia, que têm suas vidas mudadas por um acidente trágico. Sucesso desde seu lançamento, a obra já teve mais de 800 000 exemplares vendidos e se consolidou como uma obra potente e precisa da literatura contemporânea nacional ao analisar as nuances do sofrimento do povo brasileiro e da riqueza de seu sincretismo religioso e cultural.
Com elementos de realismo mágico, o livro se tornou tão grande que virou peça de teatro – adaptação que, de primeira, parece desafiadora para uma história com tantos contornos fantasiosos. Ainda mais um musical — ideia que de primeira não agradou o diretor da peça, Elísio Lopes Jr. “Voltei a ler o livro e me veio um uma conclusão muito forte: todas as religiões de matriz afro-brasileira e indígenas cantam e dançam para cultuar sua fé”. Assim, nasceu o espetáculo musical Torto Arado, desenvolvido a partir de muita pesquisa e referências do Jarê, prática religiosa de matriz africana típica da região da Chapada Diamantina, na Bahia, para criar uma musicalidade única. Em 2025, a peça já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e encerra sua temporada em terras baianas em agosto, no Teatro Casa do Comércio, em Salvador.
A direção de Torto Arado é apenas um dos trabalhos recentes de Elísio Lopes Jr, que também está envolvido no desenvolvimento de uma novela para o horário das 18h na TV Globo. Em entrevista a VEJA, ele comentou sobre novo projeto de novela, que já tem tema e título provisório, além de detalhes sobre o processo criativo da peça de Torto Arado. Confira:
Como é transpor uma história de realismo mágico pro teatro? A obra do Itamar tem uma característica que ela não fala de uma Bahia previsível, aquela Bahia praieira, do verão, de Jorge Amado, do Pelourinho. Nem fala do sertão, da seca. Ela fala de uma Bahia que fica entre uma coisa e outra, que a gente chama de Bahia Doce, Bahia das cachoeiras, das águas, dos rios, das pedras, das construções de grandes montanhas, grandes relevos de pedra. E essa ado mistério também, de um lugar que tem um sincretismo próprio. A natureza tem uma força muito grande dentro das religiões de matriz afro-brasileiras e indígenas e a região onde acontece a trama de onde Itamar se alimenta para construir suas histórias e onde teoricamente está localizada Água Negra, é uma região onde o Jarê é o culto mais presente. E o Jarê nada mais é que o sincretismo brasileiro, a junção dessas dessas religiões manifestadas em comunhão no mesmo lugar de forma civilizada, integrada porque as religiões estão juntas.
Como é essa transformação, de preservar a identidade do realismo mágico no teatro? Então, uma coisa que a gente percebeu na pesquisa de campo é que muitas pessoas estão atuando dentro de casa de Jarê ainda hoje. E uma coisa muito genial é que não existe uma ritualização apenas disso. Essa fé, essa religião está no dia a dia das pessoas. Então, quem está aqui, de repente, ouve, vê, sente, faz parte da rotina delas. Então, não era possível construir essa rotina desse povo que vive uma realidade tão dura quanto eles, com tanta escassez, ausência, se a gente não acreditar no Supremo, no mágico. Então, é preciso acreditar no mágico para sobreviver ao real. E é basicamente essa diretriz que a gente adotou para fazer a construção do Torto Arado em uma peça.
Por que Torto Arado cativou tantos leitores? Tem uma coisa muito feliz nisso: o desejo do público de conhecer mais sobre a sua própria história. Para mim fica muito claro que todo mundo que sai da peça, sai agradecido por ter entendido um pouco mais sobre quem nós somos, que dores nos afetam, e um pouco mais sobre ser quem somos. Eu estava pensando muito no encerramento da temporada de São Paulo, em como fomos felizes nessa segunda temporada, com tudo esgotado, com pessoas querendo assistir, com respeito. E respeito não é uma coisa muito comum.
Como assim? O Brasil é um país que não se aceita nordestino muitas vezes. É um país que tem dificuldade de olhar a sua cara nordestina no espelho e de achar bonita. É um entendimento que eu tenho muito forte por ser do Nordeste, mas também por trabalhar muito fora do Nordeste. Eu entendo que enquanto o Brasil não se aceitar enquanto país miscigenado, enquanto país de diversos sotaques e sabores, ele vai falhar em ter autoestima. Um país que não aceita pedaços seus não vai conseguir se gostar, se achar bonito de verdade. E essa constatação me veio muito forte ao perceber como o público de São Paulo é misturado, miscigenado, que não existe mais uma São Paulo sem o Nordeste, sem o Norte, sem o Centro-Oeste, porque está tudo misturado e compõe esse mega estado, e que esse público quer ver histórias brasileiras e quer se ver no palco. Eu acho que esse é o grande mérito, tanto do Torto Arado livro, quanto da versão musical, é encontrar um público que deseja conhecer mais a sua própria história.
Por que existe o interesse em contar histórias com protagonismo feminino? O Brasil só está de pé por causa das mulheres pretas. Economicamente, se olharmos os índices do país, quem trabalha e sustenta, de quem é a mão que cria as crianças, que empresta para o vizinho e que move esse país, é a mulher negra. Tenho um verdadeiro fascínio pela força e pela complexidade da personagem negra feminina e por tudo que ela representa em sustentar esse país e como ela não é reconhecida nesse lugar. Como a mulher negra ainda tem dificuldade de ocupar cargos na política. Se tem a confiança de que a casa, os filhos e a vida sejam guiados por uma mãe preta, mas não se pensa nessa mulher como gestora política de uma cidade ou de um país. Isso me chama atenção e é uma questão de autoestima e de imagem. A arte pode influenciar na construção de imagem. Dentro do livro, para mim, tem três ou quatro musicais. Eu podia fazer caminhos distintos para contar aquela história, escolhendo narrativas diferenciadas. Escolhi contar pelo olhar das mulheres da família, pelo olhar da Donana, que é a avó, que nega a sua ancestralidade e que abre um canal de comunicação com o imaginário espiritual que vai bater lá nas netas. Passa pelo filho, o Zeca Chapéu Grande, com todas as agonias que ele vive, e vai bater lá em Bibiana e Belonísia na fatalidade que abate a vida delas. Então, eu entendi esse caminho de ancestralidade e fui nessa construção.
A peça não se conteve em ser uma adaptação literal do livro e virou um musical. Por que é importante criar essas conexões entre diferentes formas de arte, no caso literatura, teatro e música? Quando eu recebi o convite da Mara Produções, que é a produtora do espetáculo, já veio a ideia de dirigir e adaptar Torto Arado para o teatro musical. A primeira reação que eu tive foi muito ruim, foi de questionar quem tinha dado aquela ideia. Pensei: “Essa ideia não é boa, esse livro é denso, tem gosto de sangue, de terra, é duro, ele não é um livro cantável”. Inclusive, falei para a produtora que achava essa ideia ruim. Só que eu pedi um tempo para poder pensar sobre o convite e voltei a ler o livro. E, na minha volta a a ele, percebi que esses universos estão ali flutuando dentro da narrativa, nunca é a realidade pura e crua. E depois, aprofundando mais ainda a minha pesquisa, meu primeiro olhar para a possibilidade de montar o espetáculo, me veio um uma conclusão muito forte: todas as religiões de matriz afro-brasileira e indígenas cantam e dançam para cultuar sua fé.
Por que? Se você parar para revisar os rituais, todos os afro-brasileiros e indígenas incluem o movimento, a dança e o canto — todos esses elementos fazem parte da forma de orar, de rezar, de curar. Eu não poderia falar que o Torto Arado não poderia ser um musical. Porque ele é, esse universo deles inclui o canto e a dança, e não é uma dança profissional, como balé e jazz. É a dança que o curador, a criança, o idoso e todo mundo faz, e aquilo ali tem um significado. Foi a partir daí que eu achei o DNA de construção desse espetáculo e é um DNA muito brasileiro, muito nosso, porque ele não segue formatos, ele vai exatamente para o que tem significado e significância para esse universo. E foi daí que a gente construiu, pesquisando o Jarê, entendendo como as festas se constituíam, entendendo o que é que eles ouvem, que música ecoa nesse lugar, como eles cantam e assim foi se desenvolvendo uma linguagem. Uma coisa que foi muito importante também foi ter Jarbas Bittencourt, que é o compositor das canções originais do espetáculo e diretor musical, participando junto com a gente do processo de adaptação do livro. Escrevíamos eu, Aldri Anunciação e Fábio Espírito Santo e Jarbas Bittencourt vinha junto com a gente. Então, as músicas foram sendo escritas antes da próxima cena, pra gente ir entendendo para onde a história podia ir. Essa simbiose entre a escrita e a composição foi fundamental para construção dessa narrativa a partir do livro.
Como foi o processo de encontrar musicalidade para uma peça? Fomos muito pela pesquisa de referência mesmo, indo atrás das músicas do Jarê. Primeiramente, achamos algumas pesquisas muito contundentes sobre o Jarê e um material musical sobre muitas versões de uma mesma música, por exemplo, isso é uma coisa que a cultura oral tem. Eu canto de um jeito, você canta do outro. E aí fomos cruzando foi cruzando. Tem uma uma santa que faz parte da história que é a Santa Rita Pescadeira, e a gente achou três versões de cantos para Santa Rita da Pescadeira muito parecidos. E visivelmente era o caso de alguém que cantou para outra pessoa e essa outra pessoa replicou e mudou uma palavra. Então, essa pesquisa e esse entendimento da informalidade da nossa cultura oral é muito rica. Ela tem que ser passada de geração em geração e cada passada muda uma palavra, muda um pouquinho esse canto, muda a forma de fazer. Tem uma riqueza nesse processo, que fomos construindo artesanalmente. Depois disso entra a construção cênica, a partir de referências mais épicas do que a gente imagina, do que a gente deseja provocar no público e a genialidade de Jarbas.
Quando se pensa em Torto Arado, uma ficção com elementos mágicos, é possível notar como a fantasia é uma das formas de sobreviver a uma realidade difícil e excruciante. Esse tipo de recurso tem lugar em outros formatos de arte além do teatro e da literatura? Eu acho que a vivência de Torto Arado é um aprendizado de Brasil. Isso não se perde, porque em qualquer linguagem em que se sabe um pouco mais sobre as histórias do seu povo é possível construir novas narrativas. Para mim, isso me forma, me compõe como criador, como artista e me deixa com vontade de contar outras histórias. E acho que sim, esse desejo de conhecer mais histórias brasileiras, sobre a gente, é um desejo mais amplo e eu não acho que seja um desejo perene. É uma curva de construção sobre uma questão de ocupação e de diversidade de olhar para o que a gente consome culturalmente. Eu acho que é um caminho que a gente não faz mais volta. É um caminho de avanço, em que não aceitamos mais consumir o drama alheio apenas, queremos drama que nos envolve, que nos compete e que fala sobre quem a gente é. Eu acho que isso é uma conquista que o audiovisual teve, que o teatro também está fazendo e que o teatro musical começa a fazer.
Depois de algumas temporadas da peça já concluídas, teve algo novo que tenha descoberto sobre o seu trabalho como dramaturgo em meio ao universo de Torto Arado? Me surgiu uma observação que eu tenho sobre o brasileiro. A gente, principalmente o povo preto brasileiro, não tem tempo de parar, deitar e chorar. Quando você faz essa cena da personagem, em que acontece uma coisa e ela corre para o quarto, deita na cama e chora, eu acho que essa cena não é uma cena brasileira. No Brasil, a versão dessa cena é: acontece uma coisa trágica e eu estou na pia lavando o prato e as lágrimas estão escorrendo, se misturando com a água da torneira, porque eu tenho que acabar de lavar aqueles pratos, porque eu tenho que fazer a comida, eu tenho que dormir, eu tenho que acordar cedo. A gente não vive as emoções separadamente. A gente não vive uma dor e depois uma alegria. A alegria vem com a dificuldade de pagar a conta, que vem com a esperança do emprego. A gente vive tudo misturado. Isso é uma característica do brasileiro. O “100%” é uma meta praticamente inatingível dentro do contexto que a gente tem hoje. Esse aprendizado o Torto me traz quando eu me exercito dentro daquela dramaturgia dura, daquela desconstrução. Eu tenho cinco mortes no musical. E dentro dessa dramaturgia, dessa dor, tem humor. Então, esse é um tipo de exercício como autor que eu faço no Torto e penso: “Deu certo, existe e eu estou falando desse Brasil”. Eu estou exatamente dessacralizando que, ao sentir dor, eu não possa ter humor, e ao ter humor, eu não possa sentir dor, e a gente vai vendo quem é esse brasileiro, quem é esse povo real que a gente quer registrar. O Torto me confirma algumas suspeitas que eu tinha, e eu vim exercitando de forma mais delicada e que no Torto eu ponho mais fortemente na dramaturgia, que é exatamente isso, dessacralizar esse lugar da dor e do prazer na nossa existência. E vai para tudo, sim, vai para toda a escrita e toda a construção.
A Globo vem colocando em papeis principais várias pessoas negras, a exemplo dos folhetins atuais, como Vale Tudo e Dona de Mim. Isso denota uma real evolução da emissora? Sim, acho que estamos vivendo um outro tempo e existem fatos muito concretos sobre essa mudança. Você tem as histórias protagonizadas por artistas pretos, histórias dirigidas por artistas pretos, escritas e pensadas por eles. Nós estamos em equidade com a proporção da população brasileira? Não, ainda não. Ainda não temos 50% de diretores, escritores e atores pretos ocupando os espaços, mas a gente tem as histórias sendo contadas e a polifonia do que é o Brasil começando a ecoar numa mídia tão potente quanto a TV. A gente precisa entender que a TV é uma plataforma popular. É um espaço político, um espaço de manifestação e a gente precisa ter responsabilidade com o que a gente coloca no ar, tendo o entendimento de que não se pode controlar onde chega. Mas vai chegar na vida das pessoas e vai causar uma influência. Para muitas pessoas, é a principal opção de entretenimento, de acesso a informação e até de companhia. É entendendo isso que a gente tem que colocar o conteúdo na tela. Enquanto não conquistarmos a capacidade de ter pessoas diversas criando essas histórias e decidindo o que é dito, o que é falado nos programas, que é exatamente o que fazem os roteiristas e autores, essa realidade não muda.
Por que? Não adianta colocar um personagem preto interpretando palavras pensadas apenas por autores brancos. É preciso que a diversidade do raciocínio seja feita, porque tem coisas que eu penso a partir da vivência da minha pele que um autor branco, a partir da vivência dele, não pensa. É essa a relevância, não é que agora temos que ter só autores negros ou temos que ter só autoras mulheres. Eu acho que precisamos ter multiplicidade nas escritas e multiplicidade das vozes que emitem essas escritas. Aí sim começaremos a representar quem é o Brasil de verdade. Precisamos multiplicar. Não é tirar ninguém da tela, mas é colocar quem ficou de fora durante muito tempo ou quem foi só apenas paisagem.
Existe um problema de falta de vivência na dramaturgia, então? Sim. Podemos usar um conceito da Conceição Evaristo, da “escrevivência”, que é a escrita da sua própria vivência. Quando você escreve sem vivência, você escreve o que você olha, o que você imagina. E quando a gente fala sobre a questão racial, você fala sobre o olhar do outro que sempre coloca você em função do que ele imagina. Então muitas das histórias contadas por autores brancos sobre o povo preto brasileiro são histórias sobre o racismo. E o racismo não faz parte da minha vida. Ele me atravessa, atravessa a minha existência quando o outro me olha. Amor, desejo e expectativas são sentimentos lindos de se colocar numa tela, só que às vezes somos atravessados por pessoas que nos discriminam onde eu estiver. Esse atravessamento não é a minha história, pode acontecer comigo, mas não me define. Alguém precisa contar a história das minhas filhas, a minha história, a história da minha mãe, que são histórias que tem outros dramas, outros desejos e outros sonhos. E é preciso ter vivência para contar histórias. E eu acho que a gente está caminhando para esse entendimento, para o entendimento de que é preciso multiplicar os olhares de quem conta as histórias para que elas realmente sejam diversas.
Como foi escrever sua primeira novela para a Globo, Amor Perfeito (2023), junto com Duca Rachid e Júlio Fischer? Eu estava escrevendo uma série, e Duca Rachid era a minha supervisora. No meio do processo, ela me perguntou se eu queria fazer novela. Na mesma hora eu topei. Eu questiono um contador de histórias no Brasil que diz: “não quero fazer novela”, porque estamos falando de fazer uma história que vai entrar na casa das pessoas todos os dias por 6 meses, 7 meses e fazer parte da rotina delas. Então, ela me convidou para entrar na equipe de Amor Perfeito. Me mandou o material que tinha e comecei a estudar, fiz muitas propostas. Ela e Júlio Fischer me convidaram para ser coautor da novela, porque eu propus muitas mudanças, propus trazer a questão negra para o elenco, mudar o enfoque um pouquinho e eles foram topando. Quando terminou Amor Perfeito, a gente estava com muito desejo de continuar trabalhando juntos.
E agora você está escrevendo uma nova proposta de novela para a Globo, certo? Sim. Depois de Amor Perfeito, desenvolvemos um projeto e apresentamos para a TV Globo, mas esse projeto acabou não avançando. A gente voltou, continuou trabalhando, mantendo uma rotina de trabalho. Desenvolvemos três ideias, apresentamos, e a Globo gostou muito de uma delas, que tem um título provisório de A Nobreza do Amor. A gente trabalhou nessa sinopse durante alguns meses, o projeto foi aprovado e está em desenvolvimento. É uma novela das 6, escrita por nós três juntos (eu, Duca Rachid e Júlio Fischer), e é um projeto que a gente tem muito afeto, porque tem muitas significações dentro dele, dentro dessa trama. É uma trama lúdica e adequada para o horário das 18h, mas que traz também muito do que a gente acredita, olha e deseja para o Brasil. Desejamos que em 2026 chegue às telas, logo ali no início do ano, como mais uma novidade na grade de novelas.
E já tem uma sinopse? Eu posso falar que é uma história de princesa, é uma novela de época.
E você gosta desse gênero? Adoro, porque eu acho que tem um lúdico que o brasileiro gosta, tem uma possibilidade de mergulhar. Uma coisa que temos feito muito é estudar a legislação brasileira nesses tempos, o que a gente avançou, o que não avançou. É muito interessante trazer esses raciocínios e as pessoas entenderem o quanto o país foi avançando nas suas legislações, nas suas demandas, o quanto o brasileiro também foi aprendendo a se colocar diante dos governos. É divertido visitar um pouco esse outro tempo e perceber que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.