A “direita não bolsonarista” já representa quase o dobro de eleitores em relação à direita que segue a cartilha do ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Além disso, esses eleitores são muito mais radicais em vários temas.
Essa constatação está num levantamento realizado pela Genial/Quaest, que classificou os entrevistados de acordo com suas posições políticas em lulistas, esquerda não lulista, independentes, bolsonaristas e direita não bolsonarista.
Segundo a pesquisa, a direita não bolsonarista corresponde a 22% de todo o eleitorado nacional, enquanto a bolsonarista apenas a 13%.
O perfil mais radical dos não bolsonaristas ficou claro na pesquisa, principalmente nas respostas sobre a operação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos.

Questionados se gostariam que uma operação similar fosse realizada em seu respectivo estado, 53% dos eleitores bolsonaristas responderam que sim, enquanto o percentual de aprovação subiu para 62% dos entrevistados que se dizem não bolsonaristas.
A pesquisa também perguntou a opinião dos dois grupos sobre a declaração do presidente Lula segundo a qual a ação policial no Rio foi “desastrosa”. Entre os bolsonaristas, 79% discordaram, enquanto na direita não bolsonarista o percentual bateu em 82%.
Quando perguntados se a afirmação do presidente de que “os traficantes são vítimas dos usuários” teria sido uma “opinião sincera de Lula”, 67% dos bolsonaristas concordaram, mas na direita não bolsonarista o percentual, de novo, subiu para 74%.
O deputado Kim Kataguiri (Novo-SP), que se diz direita não bolsonarista, avaliou o resultado da pesquisa. “Acho que nós realmente somos muito mais radicais em relação a algumas pautas. Em relação à segurança pública, por exemplo, a gente defende uma declaração de guerra ao crime organizado, com o endurecimento de leis penais”, diz o parlamentar.
Para Kataguiri, a direita não bolsonarista contava com posições mais firmes do ex-presidente. “O Bolsonaro esteve na Presidência, teve maioria no Congresso e não fez nada, não teve nenhuma lei de endurecimento ao crime. Pelo contrário, a gente teve dois afrouxamentos, que foi a criação do juiz de garantias, e a alteração da Lei de Improbidade Administrativa, que privilegiou muito prefeito corrupto e incompetente”.
Segundo o cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest, há uma explicação para a existência de um eleitorado ainda mais radical. “A direita não bolsonarista é composta majoritariamente por pessoas de classe média, que convivem com o medo da violência de forma mais intensa. Isso produz nesse público um efeito de radicalização maior do que o bolsonarista, que tende a ser mais velho e menos afetado por esses temas no dia a dia”, diz ele.
Nunes ressalta que a direita não bolsonarista, somada com o público que vota no ex-presidente, representa mais de um terço do eleitorado, o que abre espaço para candidatos com propostas radicais, particularmente em relação à segurança pública.