O governo comemora como se fosse Black Friday: a partir de janeiro, quem ganha até R$ 5 mil fica isento do Imposto de Renda. Na propaganda, parece aquele dinheiro extra pingando na conta, pronto para virar consumo, PIB e alegria no varejo. Mas, na vida real, o destino é bem menos glamouroso. Como resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, boa parte da renda “nova” nem verá a luz do dia — irá direto para pagar dívidas antigas.
Os números do endividamento falam por si: segundo a Serasa, o Brasil tem 80,4 milhões de endividados, maior nível da história. A CNC (confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) traz dados parecidos, 79,5% das famílias estão endividadas e três em cada dez estão com parcelas em atraso. Mensurado o tamanho do sufoco, Agostini diz ser impossível prever o impacto inflacionário da medida. “Nem toda renda disponível vira consumo — e pode virarmajoritariamente abatimento de dívida”, afirma. Na prática, o alívio tributário não deve turbinar preços nem encher carrinho de supermercado; deve, isso sim, ajudar a limpar o nome de quem não consegue respirar.
Politicamente, a medida dá manchete. Economicamente, dá só um fôlego. E até que a vida financeira dos brasileiros volte a caber no salário, a euforia fica por conta só do governo. O varejo, esse, segue esperando na calçada.