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Desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é mais que o dobro da média geral

No segundo trimestre de 2025, a taxa de desemprego do Brasil para a população geral foi a menor da série iniciada em 2012: 5,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma boa notícia que infelizmente não é para todos.

Entre os adolescentes e jovens de 18 a 24 anos, o percentual foi de 12%, mais do que o dobro. Já entre os adolescentes de 14 a 17 anos, alcançou 21,7%, no mesmo período, mais que o triplo. Com variações, para mais ou para menos, mas mantendo sempre os dois dígitos, é assim desde o início da série histórica.

Adolescentes e jovens não têm muito o que comemorar. “Os jovens continuam sendo impactados. Essa não é uma coisa que muda da noite para o dia”, lamenta Karen Mascarenhas, professora dos cursos de pós-graduação em administração da Fundação Getulio Vargas (FGV), em entrevista à coluna.

Segundo ela, há ainda uma grande dificuldade no ingresso no mercado de trabalho. “Não é só sobre falta de vaga”, diz. “Muitas vezes, o que falta é a qualificação necessária para ocupar as vagas que estão sendo oferecidas”, observa.

FALTAM CURSOS DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E DE FORMAÇÃO ADEQUADOS

De acordo com o estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, publicado em 2023 pelo Itaú Educação e Trabalho, há falhas na formação dos jovens para o mundo do trabalho. Para a maioria das organizações questionadas (67,6%), faltam cursos de qualificação profissional e de formação adequados para o acesso dos diferentes perfis dos jovens. Mais de 80% afirmam ainda que os empregadores têm dificuldades de contratar jovens com as qualificações que necessitam para as vagas ofertadas.

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O IMPACTO DA SAÚDE MENTAL

Além da falta de qualificação, Karen Mascarenhas chama a atenção para as questões de saúde mental, que têm afetado principalmente os jovens. “A pandemia agravou muito os problemas de saúde mental”, diz ela, que também é doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Fobias, ansiedade, depressão, dificuldades de se relacionar, entre outros, podem, segundo ela, ter impactado também na busca por um emprego.

Ainda não há mapeamentos que meçam o impacto disso no mercado de trabalho, mas para a especialista investimentos nas áreas de educação e saúde mental são fundamentais para dar um suporte maior para os adolescentes e jovens, especialmente os menos favorecidos.

Em A Loteria do nascimento – Filha do porteiro termina universidade, mas não alcança filho do rico (Editora Jandaíra), recém-lançado, o economista Michael França e o sociólogo Filipi Nascimento abordam esse tema, partindo, inclusive, de suas próprias experiências pessoais.

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No Brasil, os cuidados de saúde mental são marcadamente desiguais entre ricos e pobres. Segundo os autores, os filhos das elites têm acesso a um conjunto amplo de serviços, incluindo psicoterapeutas particulares e tratamentos de qualidade. Já as filhas dos porteiros dependem dos serviços públicos, que estão subfinanciados. A falta de recursos financeiros limita o acesso a atendimentos qualificados, resultado em longas esperas e, muitas vezes, diagnósticos tardios.

“Para as filhas dos porteiros, estas condições não implicam somente em esgotamento mental, mas também em um pior desempenho no trabalho e nos estudos, fatores que são diferenciais na mobilidade social e têm efeitos a médio e longo prazos”, reforçam os autores. Segundo eles, a atual crise de saúde mental é algo que está esgarçando histórias individuais e coletivas, com o potencial de travar significativamente a trajetória de milhares de pessoas e, em especial, das minorias.

Um quadro crítico agravado pelo contexto, que tem exigido cada vez mais qualificação. Para Karen Mascarenhas, governo e empresas devem investir mais tanto em educação e formação para o trabalho quanto em saúde mental, especialmente para adolescentes e jovens. Os números não deixam dúvidas de que são eles que estão ficando para trás.

* Jornalista e diretora da Cross Content Comunicação. Há mais de três décadas escreve sobre temas como educação, direitos da infância e da adolescência, direitos da mulher e terceiro setor. Com mais de uma dezena de prêmios nacionais e internacionais, já publicou diversos livros sobre educação, trabalho infantil, violência contra a mulher e direitos humanos. Siga a colunista no Instagram

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