counter Descoberta de âmbar no Equador revela floresta primitiva e insetos do período Cretáceo – Forsething

Descoberta de âmbar no Equador revela floresta primitiva e insetos do período Cretáceo

Uma descoberta no Equador está reescrevendo a história da vida no supercontinente Gondwana, o supercontinente que incluía a maior parte das zonas de terra firme que hoje constituem os continentes do hemisfério sul. Cientistas identificaram o maior depósito de âmbar do Mesozoico na América do Sul, localizado na pedreira Genoveva, região de Napo. Trata-se do primeiro achado de âmbar cretáceo na região a conter inclusões de artrópodes terrestres, lançando luz para um ecossistema de floresta tropical úmida de 112 milhões de anos. Publicado em uma revista da Nature Portfolio, o estudo destaca a importância global desta descoberta para a compreensão da biodiversidade da Gondwana durante o período Cretáceo Resinoso.

O âmbar, resina fossilizada, é uma cápsula do tempo natural que se tornou abundante no Cretáceo (125–72 milhões de anos), período conhecido como Intervalo Resinoso. Embora vastos depósitos com bioinclusões sejam comuns no Hemisfério Norte, a América do Sul apresentava uma lacuna na compreensão das florestas gonduanas. As amostras equatorianas, datadas do Albiano Inferior (cerca de 112 milhões de anos) e encontradas na Formação Hollín, provêm principalmente da pedreira Genoveva. Embora o âmbar cretáceo já fosse conhecido esporadicamente no Equador, esta é a primeira vez que se encontram quantidades substanciais e com bioinclusões para estudos paleontológicos aprofundados. A saturação em petróleo da rocha circundante contribuiu para a preservação física do âmbar.

Um pedaço de teia de aranha constituído por sete fios retos presos em uma amostra de âmbar
Um pedaço de teia de aranha constituído por sete fios retos presos em uma amostra de âmbar –Enrique Peñalver/Reprodução

A revelação mais impactante veio das peças de âmbar “aéreo”, formadas pela resina exposta ao ar. Nestas pequenas peças translúcidas, os pesquisadores identificaram 21 bioinclusões notavelmente preservadas, representando seis ordens de artrópodes. A fauna inclui diversos insetos holometábolos como Diptera (moscas), Coleoptera (besouros), Hymenoptera (vespas), e um espécime de Trichoptera. Além disso, foram encontrados insetos paraneopteranos como Aleyrodidae (Hemiptera) e, de forma única, um fragmento de teia de aranha. Estes microfósseis oferecem uma visão direta de organismos que raramente fossilizam em outros contextos, essenciais para desvendar ecossistemas passados.

Enrique Peñalver (left) and Edwin Cadena (right) searching for samples in the Genoveva Quarry waste dump. Credit: Mónica Solórzano-Kraemer.
Enrique Peñalver (esquerda) e Edwin Cadena (direita) em busca de amostras no depósito de resíduos da Pedreira Genoveva –Mónica Solórzano-Kraemer/Reprodução
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As análises do âmbar e das rochas adjacentes pintaram um quadro detalhado do ecossistema antigo. A resina veio de coníferas Araucariaceae. Dados palinológicos e macroflorais indicam florestas moderadamente diversas, com a mais antiga associação de folhas de angiospermas conhecida no noroeste da América do Sul. A presença abundante de samambaias e de insetos com estágios larvais aquáticos (Chironomidae e Trichoptera) no âmbar sugere um ambiente de floresta úmida com corpos d’água. A ausência de paleoincêndios reforça essas condições, contrastando com locais cretáceos no Hemisfério Norte e regiões áridas no leste da América do Sul tropical.

Esta descoberta é vital para a paleontologia da Gondwana, preenchendo uma lacuna crítica no registro fóssil do Hemisfério Sul. O âmbar de Genoveva oferece evidências diretas de um ecossistema de floresta úmida e sua fauna de artrópodes na Gondwana equatorial, um período de grandes transformações. A equipe antecipa que futuras explorações trarão novas bioinclusões, aprofundando as relações biogeográficas com outras regiões da Gondwana. Esta “cápsula do tempo” equatoriana é, assim, uma peça indispensável no vasto quebra-cabeça da vida cretácea global.

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