Ministro-chefe da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro e mandachuva do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PI) tem uma chapa dos sonhos para enfrentar o presidente Lula nas eleições de 2026. Ela é formada pelo governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), tendo ele, Nogueira, como vice.
Durante meses, o senador tentou costurar um acordo entre partidos do Centrão e da direita para garantir a união da maior parte do campo oposicionista em torno da candidatura encabeçada por Tarcísio. Não só não deu certo como Ciro Nogueira, considerado o principal articulador político da direita, passou a ser criticado por seus companheiros de trincheira.
Outros presidenciáveis da direita reclamaram publicamente das articulações do senador, dizendo, inclusive, que ele age em benefício próprio — no caso, trabalharia para ser vice na chapa diante de supostas dificuldades para se reeleger senador.
Entre os críticos, destacaram-se o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que sonham com o Palácio do Planalto e não se mostram dispostos, por enquanto, a apoiar uma chapa formada Tarcísio e Ciro Nogueira.
Recuo tático
Diante das resistências anunciadas, o senador recuou. Referindo-se à federação formada por Progressistas e União Brasil, que foi pensada justamente para fortalecer uma candidatura presidencial de oposição, Ciro Nogueira escreveu numa rede social: “Diante da falta de bom senso e de estratégia no centro e na direita, irei defender junto ao presidente (do União Brasil, Antônio) Rueda que o nosso foco principal sejam as eleições estaduais e as nossas bancadas”.
O desabafo revela, de forma involuntária, uma diferença crucial entre Lula e Jair Bolsonaro. Mesmo quando esteve preso por 580 dias, em razão da Operação Lava-Jato, o petista manteve a esquerda unida e a palavra final sobre os rumos de seu grupo político. Em 2018, havia vários nomes interessados em substituir Lula nas urnas, mas eles não bateram boca publicamente e aceitaram a escolha feita pelo chefe.
Em prisão preventiva e prestes a ser encarcerado em definitivo em razão da trama golpista, Bolsonaro não tem demonstrado o mesmo poder diante de seus aliados, que brigam diante dos holofotes, tocam projetos próprios e expõem publicamente o racha na direita. O capitão não consegue comandar como antes — nem sem contestação, como Lula.