Um imigrante salvadorenho residia legalmente nos Estados Unidos, mas foi deportado por engano pelo governo do presidente Donald Trump, afirmou ter sido submetido a tortura física e psicológica em um presídio de segurança máxima de El Salvador. A denúncia consta de um documento apresentado nesta quarta-feira, 2, à Justiça federal em Maryland.
Kilmar Abrego Garcia, 29, foi afastado da esposa e do filho — ambos cidadãos americanos —, e deportado em março, mesmo após uma decisão judicial de 2019 que proibia sua remoção para El Salvador, sob risco de perseguição por gangues. Segundo as autoridades americanas, o caso foi um “erro administrativo”.
Em depoimento inédito anexado ao processo, Abrego revelou os horrores que enfrentou no Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), considerado o maior presídio de segurança máxima das Américas e joia da coroa da guerra às gangues do presidente salvadorenho, Nayib Bukele. Segundo seus advogados, ele foi submetido a “espancamentos severos, privação extrema de sono, alimentação inadequada e tortura psicológica”, o que resultou em uma perda de peso de cerca de 14 quilos em apenas duas semanas.

O governo Trump chegou a alegar anteriormente que Ábrego García era membro da gangue MS-13, um dos dois principais grupos armados que viviam em guerra em El Salvador — afirmação que os advogados do salvadorenho negam categoricamente. O Departamento de Segurança Interna americano reafirmou essa acusação na quarta-feira, em comunicado online.
Mesmo após ter sido trazido de volta aos EUA em 6 de junho, Abrego permanece detido no estado do Tennessee. Ele agora responde a um processo criminal sob acusação de integrar uma rede de contrabando humano com pelo menos cinco cúmplices. O imigrante se declarou inocente, mas o governo já sinalizou que pretende deportá-lo novamente, caso seja condenado.
Críticos de Trump apontaram o caso como evidência de que seu governo está avançando com a expulsão de imigrantes mesmo quando há decisões judiciais em vigor protegendo seus direitos, o que considera-se uma afronta direta do poder executivo ao poder judiciário. O presidente, por sua vez, defende que o executivo é quem deve ter palavra final em casos de política externa e segurança nacional.