Um processo movido por três agentes demitidos do FBI nesta quarta-feira, 10, aponta que a Casa Branca exerce uma “enorme influência” sobre a agência federal e acusa o governo do presidente Donald Trump de conduzir uma “campanha de vingança” contra inimigos percebidos. As informações foram divulgadas pelo jornal americano The New York Times, e apontam que a administração americana vem exigindo testes de lealdade política desde que o republicano tomou posse nos Estados Unidos em janeiro.
A acusação foi feita pelos ex-funcionários Brian Driscoll Jr, Steven Jensen e Spencer Evans junto ao Tribunal Distrital de Washington. O trio ocupava cargos de nível sênior no FBI antes de ser demitido em agosto pelo novo diretor da instituição, Kash Patel. Segundo eles, a demissão foi consequência de seu “fracasso em demonstrar lealdade política suficiente”.
Empossado em fevereiro, Patel é exposto de forma “pouco lisonjeira” ao longo da acusação, apontado como um intermediário responsável por seguir ordens de funcionários do alto escalão governamental — o que representaria uma virada de chave na história de uma instituição secular independente.
Com 68 páginas, o processo afirma que o novo diretor “deliberadamente escolheu priorizar a politização do FBI em vez de proteger o povo americano” e de se recusar a defender os agentes de campo de carreira. Tanto Patel quanto seu vice-diretor, Dan Bongino, são pintados como figuras que têm mais interesse na imagem que projetam nas redes sociais do que na administração do dia a dia da agência.
O processo também acusa o principal conselheiro de política doméstica de Trump, Stephen Miller, e o ex-funcionário do Departamento de Justiça Emil Bove III — ambos responsáveis por coordenar, na prática, a agência durante os primeiros meses de governo — de ordenarem a demissão de agentes com carreiras longas por não acreditarem que eles “cumpririam a agenda do presidente”.
Ex-diretor interino do FBI, Driscoll relatou ter sido pressionado a despedir funcionários sem o devido processo legal. De acordo com ele, Bove III tentou convencê-lo a realizar demissões sumárias de agentes em todo o país, além de pedir uma lista detalhada daqueles que trabalharam nas investigações sobre a invasão da horda trumpista ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Ao relatar uma entrevista de transição feita com Patel, Driscoll diz ter sido informado de que poderia ocupar cargos de destaque caso “não fosse ativo nas redes sociais, não tivesse feito doações ao Partido Democrata e não tivesse votado em Kamala Harris na eleição de 2024”.
Outro dos acusadores, Jensen, trabalhava na supervisão da seção de operações de terrorismo doméstico antes de ser escolhido por Patel para dirigir o escritório de campo do FBI em Washington. Ele havia trabalhado intimamente nas investigações do 6 de janeiro, e foi atacado por partidários de Trump no início do seu mandato.
Inicialmente, ele recebeu apoio do novo diretor-geral, mas não demorou até que fosse demitido por meio de uma carta, que o acusava de ter falhado na execução “das tarefas solicitadas, resultando em um atraso nas prioridades do FBI”. Jensen também relatou ter ficado desconfiado com o foco do vice-diretor Bongino em “aumentar o engajamento online por meio de seus perfis nas redes social” em detrimento de investigações reais da agência.
Já Evans, ex-agente especial encarregado do escritório de Las Vegas, virou alvo após negar pedidos de “isenção por motivos religiosos” a funcionários que se recusavam a tomar a vacina contra a covid-19. A ação foi exposta em uma publicação nas redes sociais por um ex-agente, Kyle Seraphin, e estavam presentes em sua carta de demissão.
O processo movido por Jensen, Evans e Driscoll pede que eles sejam reintegrados à agência e que suas demissões sejam declaradas como uma violação às proteções do serviço público federal e de seus direitos constitucionais à liberdade de expressão.
Segundo o NYT, o FBI vem sendo alvo de ataques por parte da gestão Trump devido “à crença de que a agência o investigou erroneamente por uma série de supostas prevaricações”. O republicano não se esqueceu dos inquéritos sobre a suspeita de conluio com a Rússia na campanha presidencial de 2016 e da ajuda do FBI aos processos movidos pelo procurador Jack Smith, responsável por apurar as suas tentativas de reverter sua derrota eleitoral em 2020.
O episódio aumenta a preocupação em torno da cruzada travada por Donald Trump contra funcionários públicos vistos como “opositores” de seu governo. Ondas de demissões se tornaram frequentes desde que o empresário retornou à Casa Branca, atingindo órgãos como o Federal Reserve (banco central americano), a Comissão Federal de Comércio e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos.