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De Geisel a Lula e Dilma: Edison Lobão revela bastidores de meio século do poder no Brasil

Ex-ministro de Minas e Energia e cacique do MDB no Maranhão, Edison Lobão lança nesta segunda-feira, 01, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio, o livro “Memórias e Testemunhos – Revelações Políticas”. Em 200 páginas, Lobão conta histórias vividas nos bastidores da política durante cinquenta anos: o político conviveu de perto com presidentes de perfis distintos como Geisel, Figueiredo, Sarney, Lula e Dilma, sem contar os inúmeros personagens que com maior ou menor importância orbitavam em torno deles.

No livro, ele recorda os tempos em que era jornalista político próximo de Geisel e as negociações, já como deputado federal, para a redemocratização do país. Também há relatos curiosos de quando esteve nos governos do PT. Indicado a Lula pelo antigo PMDB para assumir Minas e Energia, pasta antes ocupada por Dilma, foi recebido com visível má vontade pelo presidente e, em especial, pela própria antecessora, que acabara de assumir a Casa Civil e era figura central no Planalto. “Ela dizia que eu iria estragar todo o trabalho feito por ela, a reforma administrativa que havia conduzido no ministério”, recorda. Lula acabou oficializando, após muitos adiamentos, a sua nomeação, mas o mal-estar do PT com a presença de Lobão era evidente.

Amigo pessoal de Lula

A reviravolta viria com a crise de energia na Argentina. O presidente queria ajudar o vizinho, mas esbarrava na inviabilidade de ceder parte do gás da Bolívia que vinha para o Brasil. A solução de última hora veio de Lobão: fornecer eletricidade sem custo via Rio Grande do Sul, com compromisso de devolução no futuro, assim que a crise fosse contornada. “Todo mundo ficou feliz. Foi bom para todos: para o governo, para o presidente e para a Cristina Kirchner”, conta. A partir daí, sua relação com Lula mudou da água para o vinho. “Ele passou a me levar a todas as agendas externas, até para reunião dos Brics na Rússia — embora minha pasta não tivesse rigorosamente nada a ver com os Brics”, diverte-se o ex-ministro, que virou amigo pessoal de Lula.

Histórias da ditadura

Também há espaço para episódios de poder e vaidade militar. João Figueiredo, escolhido por Geisel como sucessor, só aceitou o posto sob a condição de ser promovido a general de quatro estrelas. “Preparei-me a vida inteira para ser comandante, não para ser presidente, que é sempre uma circunstância”, justificou Figueiredo ao receber o convite, segundo Lobão em seu livro. Geisel, incrédulo, chegou a se perguntar como alguém poderia cogitar abdicar da Presidência por tão pouco. Mas, pragmático, abriu quatro vagas no generalato para satisfazer o escolhido.

O temperamento de Figueiredo, aliás, é descrito a partir das observações de Lobão. Apaixonado por cavalos, dizia preferir a companhia deles à dos seres humanos. O general quatro estrelas disse certa vez, ao ser questionado sobre o que faria se ganhasse um salário mínimo, que “daria um tiro no coco”. Outra vez, chegou a reclamar publicamente do gosto do leite de soja, cujo consumo deveria incentivar entre estudantes em uma escola. Praticamente cuspiu o conteúdo do copo durante o evento. Para Lobão, eram sinais de um presidente que não se encaixava em convenções políticas tradicionais.

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Sarney armado

Outra cena marcante que faz parte das suas memórias é o episódio em que José Sarney, às vésperas da transição democrática, entra armado em uma reunião da cúpula do PDS, dominada por aliados de Paulo Maluf. Levava um revólver Smith & Wesson calibre 38 comprado nos anos 1950, já com pólvora vencida e corroído pela ferrugem. “Valia menos que um bacamarte de museu”, diz Lobão no capítulo dedicado a esse período. Por pouco, a democracia não acabou em clima de faroeste.

Na narrativa, Lobão, hoje com 88 anos, revisita sua própria trajetória: primeiro como jornalista, depois como deputado federal, governador do Maranhão e senador por três mandatos consecutivos. No Ministério de Minas e Energia, executou um dos projetos vitrine do governo Lula, o Luz para Todos. Em meio à longa carreira, chegou a figurar em investigações da Lava Jato, das quais saiu sem condenação. Em 2024, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região confirmou o arquivamento das denúncias por falta de provas.

No último dia 20, ele apresentou a obra, com prefácio de Sarney, no Salão Negro do Senado diante de uma plateia que misturava nomes da esquerda e da direita. Uma das marcas do ex-ministro é, justamente, o trânsito entre tribos políticas opostas. O evento teve discursos de Hugo Motta, presidente da Câmara, e de Davi Alcolumbre, presidente do Senado.

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