As lindas amarras do balé clássico eram um peso para o bailarino Décio Otero. No fim dos anos 1960 e 1970, a dança brasileira ainda bebia dos passos de plié e jeté, impulsionados pela competente escola do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. De mãos dadas com Marika Gidali, húngara radicada no Brasil, com quem se casaria, Otero criou o Ballet Stagium, e em suas coreografias incorporou jazz, samba, ritmos africanos e indígenas. Era linguagem corporal que, a seu modo, gritava contra o ambiente pétreo imposto pela ditadura militar no Brasil. Ele bebera de longa temporada de estudos na Europa, especialmente na Alemanha e Suíça, países que já bailavam no moderno, antes mesmo dos Estados Unidos.
A obra-prima do Stagium, Kuarup, também conhecida como A Questão do Índio, de 1977, sem financiamento estatal e com figurinos em verde e amarelo desenhados pelo estilista Clodovil Hernandes, ainda hoje ecoa como marco inaugural, a partir de trilha colhida no Xingu, e influencia grupos de revelo internacional, como o mineiro Corpo, que acaba de completar cinquenta anos de existência. Otero morreu em 28 de julho, aos 92 anos.
A voz inigualável

A passagem de Paul Mario Day pela origem da banda de heavy metal Iron Maiden foi breve como um sopro, de apenas seis meses, entre 1975 e 1976, mas ainda hoje faz muito barulho. Ele esteve à frente do quinteto formado por Steve Harris, Terry Rance, Dave Sullivan e Ron Matthews em sua primeira apresentação londrina, ocorrida em um salão paroquial para uma plateia de cerca de apenas vinte pessoas. Foi espantoso ouvi-lo interpretar a bela e melódica Strange World. Afastado, por supostamente lhe faltar carisma, apesar da voz, depois faria sucesso em bandas como More, Sweet, Wildfire e Crimzon Lake. Paul Day morreu em 29 de julho, aos 69 anos.
Referência no jornalismo

“É difícil ser jornalista sem alguma dose de ceticismo”, dizia Marcelo Beraba. Sempre cuidadoso na abordagem das notícias, de raro empenho com a precisão, fez história na Folha de S.Paulo, no Estado de S. Paulo, no Jornal do Brasil, na TV Globo e em O Globo. Exercia liderança como poucos, especialmente afeito a coordenar equipes em grandes coberturas, como as de eleições, cúpulas internacionais e Copas do Mundo. Foi dele a ideia da criação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, depois do assassinato de Tim Lopes, em 2002. Beraba morreu em 28 de julho, aos 74 anos, em decorrência de um câncer no cérebro descoberto em março.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955