Não havia atriz mais talhada para compor os programas de humor na TV do que Berta Loran, nascida na Polônia como Basza Ajs e que imigrou com a família para o Brasil aos 9 anos de idade. O pai era alfaiate e ator, celebrado pela comunidade judaica no Brasil — Berta o acompanhava e, na adolescência, subiu ao palco pela primeira vez. “Sempre fui trapalhona, traquina, sapeca”, contou. “Aos 14, botei o salto alto da minha mãe e subi no palco. Ele quebrou, e saí andando. O povo começou a rir. Eu gostei e pensei comigo ‘É bom fazer rir’.”
Ela atravessou a história da graça nas telas, em uma série de sucessos — era sempre personagem secundária, de frases curtas e voz grossa, com leve sotaque do Leste Europeu, o ritmo a manter vivo o arco das piadas. Dos silêncios e do olhar debochado fazia sua arte. Trabalhou em Riso Sinal Aberto (1966), Balança Mas Não Cai (1968), Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), Escolinha do Professor Raimundo (1990), Zorra Total (1999) e A Grande Família (2012). Berta morreu em 28 de setembro, aos 99 anos.
O amigão do esporte

O sorriso tonitruante era a marca registrada do comentarista Paulo Soares. Na bancada do programa SportsCenter, da ESPN Brasil, dividida com Antero Greco (1954-2024), as frases de duplo sentido e a ironia inteligente mantinham o tom sempre leve, mas sem perder a profundidade do noticiário. Não por acaso, era conhecido como Amigão. Tinha 45 anos de profissão, e invariavelmente começava as transmissões com um delicado “My friends”, em inglês mesmo. “Um simples boa-noite dele já alegrava o dia”, disse o ex-tenista Fernando Meligeni, que cruzava com o jornalista nos corredores da emissora e diante das câmeras. Soares morreu em 29 de setembro, aos 63 anos. Havia cinco meses estava internado, em decorrência de problemas depois de uma cirurgia na coluna.
A vida como ela é

Em julho de 1960, uma primatóloga e ambientalista britânica de apenas 26 anos, Jane Goodall, desembarcou pela primeira vez no Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia. Desde a primeira incursão na selva, mergulhou a fundo no comportamento dos chimpanzés, tornando-se nos últimos 65 anos a principal referência mundial no estudo desses animais. Suas descobertas jogaram luz nas complexas relações sociais estabelecidas pelos macacos e ensinaram ao mundo haver menos diferenças entre homens e símios do que se imaginava. “Quando estudei em Cambridge, me falaram que só os humanos tinham personalidade. Por sorte, cresci com um cachorro e ele me ensinou o contrário”, disse às Páginas Amarelas de VEJA, em 2020. Goodall morreu em 1º de outubro, aos 91 anos.
Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964