As relações entre Brasil e Coreia do Sul têm tudo para se intensificar durante os mandatos dos presidentes Lula e Lee Jae-myung. A avaliação foi feita pela embaixadora do Brasil em Seul, Márcia Donner Abreu, que acredita que os laços diplomáticos ganharam força porque os líderes compartilham trajetórias e visões semelhantes.
É que os dois presidentes nasceram em meio à pobreza, enfrentaram muitas dificuldades e construíram suas trajetórias públicas a partir do compromisso com os direitos dos trabalhadores. Lula como líder sindical, Lee Jae-myung como advogado trabalhista e de direitos humanos. Segundo a embaixadora, os dois chefes de estado também enfrentaram, por motivos diferentes, batalhas judiciais ao longo de suas carreiras. Eles também foram inocentados pela Justiça dos dois países por faltas de provas.
Em meados de 2024, pouco antes de o então presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, conhecido por sua linha conservadora à frente do Partido do Poder Popular (PPP),tentar permanecer no poder por meio de uma controversa declaração de lei marcial, que acabou o levando ao impeachment, o país já vivia um cenário de forte tensão política. Na época, o líder da oposição, Lee Jae Myung, enfrentava um processo judicial movido pelo Ministério Público, que o acusava de suposta infração à legislação eleitoral por declarações feitas em uma campanha anterior.
Lee rechaçou as acusações. Afirmou que eram “infundadas” e de “cunho político”. Em resposta à denúncia, Lee Jae-myung chegou a traçar um paralelo com o caso do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que ambos eram vítimas de perseguições judiciais promovidas por setores ligados ao poder estabelecido. “A situação é a mesma”, declarou à época.
O primeiro encontro entre Lula e Lee Jae-myung foi no Canadá, no último dia 17, durante os eventos da Cúpula do G7. A conversa entre os dois líderes foi informal, mas carregada de simbolismo e empatia. Segundo informações divulgadas pelo gabinete presidencial da Coreia do Sul, Lee Jae-myung aproveitou o momento para compartilhar com Lula uma história pessoal que os aproxima: aos 15 anos, enquanto trabalhava em uma fábrica de luvas de beisebol, teve o antebraço esquerdo permanentemente comprometido após um acidente com uma máquina de prensar.
Lula, como se sabe, carrega na pele a memória de uma juventude marcada pelo trabalho pesado. Aos 19 anos, perdeu o dedo mindinho da mão esquerda em um acidente durante o expediente em uma metalúrgica em São Paulo. A imprensa sul-coreana, ao noticiar o encontro, destacou esse passado em comum e se referiu ao presidente brasileiro como o “padrinho da esquerda latino-americana”, em referência à sua trajetória sindical e influência política na região. Durante o encontro dos dois, Lula teria dito: “não nos esqueçamos do motivo pelo qual a população nos escolheu”.