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Cristina Kirchner: Dramática como um tango argentino

Ela saiu na sacada da sede do Partido Justicialista, em Buenos Aires, como se revivesse Evita Perón — mas agora com evidentes ares de farsa. Para a multidão que a aplaudia, a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, esbravejou: “Os peronistas não fogem. A direita é que faz isso. Não somos mafiosos”. Ela havia acabado de ser condenada pela Suprema Corte a seis anos de cadeia e impedida de ocupar cargos públicos pelo resto da vida, acusada de corrupção em obras públicas na província de Santa Cruz, seu reduto político. Como tem mais de 70 anos, é certo que poderá cumprir a pena em prisão domiciliar. A decisão — o triste desfecho de uma aventura — põe fogo no tabuleiro político do país. O atual mandatário, Javier Milei, que passou a semana na Europa bradando contra a esquerda — “Viva a liberdade, car***! Morte ao socialismo”, rugiu em um fórum econômico em Madri —, comemorou a decisão. Nas redes sociais, ele foi direto ao ponto, com exclamação: “Justiça! Fim”. Contudo, pode ser cedo para cantar vitória. O veredicto de Cristina incitou os grupos peronistas. Para a turma de Milei, tê-la como adversária era atalho para a permanência do discurso ultraliberal, de nítida oposição. Agora haverá nuances, em jogo que Milei tem dificuldade de praticar. A Argentina, que nunca foi para amadores, vive dias nervosos, apesar da inflação controlada: 25% ao mês em dezembro de 2024 e 2,8% em abril passado. O tango está apenas começando, e as manifestações de rua, que brotam de um lado e de outro, indicam dramática dança.

Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

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