Os Correios devem receber um empréstimo de R$ 12 bilhões, com garantia da União, numa tentativa de estancar a deterioração financeira da estatal. Segundo Thiago Calestine, economista da DOM Investimentos, a situação da empresa foge a qualquer manual básico de economia. “É inconcebível que uma empresa com monopólio legal no Brasil esteja mal das pernas. Isso desafia até os livros de economia neoclássica”, afirmou. Calestine lembra que o “sonho de qualquer empresário é ser monopolista”, já que, em tese, isso garante margem elevada e captura do excedente do consumidor. “Os Correios são um caso raríssimo: um monopólio que dá prejuízo”, resumiu.
Em entrevista coletiva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou qualquer hipótese de privatização enquanto estiver no cargo, mas abriu espaço para uma estrutura de capital misto, com parcerias privadas. Para o mercado, o socorro financeiro escancara um problema mais profundo: gestão e modelo de negócios. Na avaliação do economista, o debate não se resume a privatizar ou não, mas a mudar incentivos e governança. A economia mista surge como um primeiro passo pragmático, ainda que tímido, para melhorar eficiência, qualidade do serviço e rentabilidade. “O serviço é ruim e não dá lucro. A entrada de capital privado pode ser um novo fôlego, uma tentativa de mudar esse rumo”, afirmou Calestine. Para o mercado, o recado é claro: sem mudança estrutural, o empréstimo apenas compra tempo — não resolve o problema.
