Entre os vestígios do antigo anfiteatro de Viminacium, no leste da Sérvia, arqueólogos encontraram o crânio fragmentado de um urso-pardo que viveu há cerca de 1.700 anos. A cidade, capital da província romana da Mésia, tinha até 40 mil habitantes no auge do Império e, como em outros centros da época, o anfiteatro era palco de espetáculos sangrentos. Ali, gladiadores, escravizados e animais selvagens eram forçados a lutar para entreter multidões de até 7 mil pessoas.
A análise do crânio, publicada na revista Antiquity, revelou um trauma profundo na parte frontal do osso, resultado provável de uma investida com lança durante os combates. O ferimento chegou a cicatrizar, mas a infecção associada pode ter levado o animal à morte. Nos dentes, outro sinal de cativeiro: o desgaste excessivo indica que o urso roía barras de metal da própria jaula, comportamento típico de animais mantidos em condições precárias e sob estresse. A idade estimada era de seis anos, o que sugere uma vida curta, marcada por abusos.

Uma forma de entretenimento cruel
Fontes históricas já descreviam o uso de ursos, leões, leopardos e até rinocerontes nos jogos romanos. Em ocasiões grandiosas, como a inauguração do Coliseu em 80 d.C., um rinoceronte chegou a ser colocado para enfrentar simultaneamente touros, leões e um urso. Os animais eram capturados em regiões distantes — como os Bálcãs, a África do Norte e a Ásia Menor — e transportados até as arenas, onde eram famintos e treinados à força para enfrentar gladiadores especializados em caça, chamados venatores.
O crânio do urso de Viminacium, no entanto, representa a primeira evidência física concreta da participação de ursos-pardos nesses espetáculos. Junto dele, também foram encontrados ossos de um leopardo e de outros animais, o que reforça a dimensão do uso de feras na cidade. Estudos indicam que, após as lutas, os animais mortos eram rapidamente esquartejados, a carne distribuída à população e os ossos descartados nos arredores do anfiteatro. O achado em Viminacium segue esse padrão e oferece uma visão rara do cotidiano desses jogos.