Um grupo internacional de cientistas soou um novo alerta: o planeta está se aproximando de uma zona crítica, onde diversos sistemas climáticos podem entrar em colapso simultâneo.
A avaliação foi feita durante um encontro recente em Exeter, no Reino Unido, que reuniu os principais especialistas em mudanças climáticas e riscos globais.
A principal conclusão é clara e preocupante: o risco de ultrapassarmos pontos de inflexão climáticos aumentou consideravelmente, o que pode desencadear impactos devastadores para bilhões de pessoas em todo o mundo.
Reduzir emissões pela metade: uma exigência imediata
Para evitar esse cenário, os pesquisadores defendem uma medida urgente: reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa pela metade a cada cinco anos, a partir de 2025. Isso significa um corte anual de aproximadamente 12%, um ritmo muito mais acelerado do que o atual.
Segundo a ONG sueca Klimatkollen, que realizou projeções com base no orçamento de carbono de 2024 e no modelo conhecido como Carbon Law, essa redução é o mínimo necessário para manter viva a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C, um dos pilares do Acordo de Paris.
O tempo está acabando
Esse limite de 1,5 ºC está cada vez mais próximo de ser ultrapassado. O planeta já caminha para atingir esse patamar de aquecimento de forma permanente.
Para evitar um cenário de instabilidade climática prolongada, o mundo só pode emitir mais 305 bilhões de toneladas de dióxido de carbono.
No ritmo atual, esse “orçamento de carbono” será esgotado em poucos anos e está sendo consumido a uma taxa de 1% ao mês.
Cada tonelada extra lançada na atmosfera aproxima o mundo de impactos irreversíveis: colapso de florestas tropicais, derretimento das calotas polares e alterações no regime de chuvas que afetam diretamente a produção de alimentos.
Ainda é viável?
Apesar da gravidade da situação, os cientistas afirmam que é tecnicamente possível cortar pela metade as emissões globais com as soluções que já existem.
Em 2023, por exemplo, a União Europeia conseguiu reduzir suas emissões em 8,5%, resultado obtido principalmente pela mudança na matriz elétrica. Mas o desafio agora é ampliar os cortes para setores como transporte, indústria, agricultura e edificações.
A chave, segundo os especialistas, é acelerar políticas públicas, investimentos e compromissos empresariais. O que falta, dizem eles, é vontade política e liderança corporativa.
Retrocessos e sinais de alerta
O cenário político, porém, não é animador. A eleição nos Estados Unidos desencadeou uma onda de retomada dos combustíveis fósseis.
Na Europa, a guerra na Ucrânia e as tensões econômicas empurraram temas ambientais para segundo plano. Propostas como a Green Claims Directive foram suspensas ou diluídas.
Do lado empresarial, o descompromisso também preocupa.
Um estudo publicado na revista Nature revelou que cerca de 40% das empresas analisadas abandonaram ou não cumpriram suas metas climáticas — sem sofrer consequências.
Além disso, a Net-Zero Banking Alliance, grupo de bancos apoiado pela ONU, retirou a exigência de alinhar seus financiamentos à meta de 1,5 ºC.
Mesmo com esses retrocessos, a população global segue exigindo respostas.
Uma pesquisa realizada em 125 países mostrou que 89% das pessoas querem que seus governos façam mais para enfrentar o aquecimento global.
Para os cientistas, o mundo já não tem margem para caminhos graduais.