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Coreias se unem pela música: VEJA vai a Seul entrevistar o 1Verse

A música une o que a política mantém distante. Quatro jovens que formam o grupo de k-pop 1Verse dão exemplo de convivência pacífica mesmo com diferenças históricas dos países. A boyband é formada por dois jovens da Coreia do Norte, Hyuk e Seok, o japonês Aito, o chinês-americano Kenny e o californiano Nathan Kousol. Com estreia marcada para o dia 18 de julho, com o lançamento do single “The 1st Verse”, o grupo chega ao cenário musical sul-coreano depois de um processo intenso de preparação artística, superação pessoal e com um nome no comando que é sinônimo de sucesso nesse mercado.

Michelle Cho, o nome por trás de hits de grupos como Seventeen, além dos solistas Baekhyun e Kai, do EXO, foi quem estruturou o grupo. O primeiro movimento foi anunciado em suas redes sociais em setembro de 2023, a participação dos norte-coreanos Hyuk e Seok em um festival em Seul, onde apresentaram covers de sucessos como o imbatível “Idol”, do BTS. Em outubro do ano passado, o 1Verse se apresentou no Archive – K Live in Seongsu para um público bem diverso. Foi muito aplaudido.

Para contar um pouco sobre a trajetória do grupo, os integrantes do 1Verse e a CEO Michelle Cho bateram um papo, em Seongsu (Seul), com exclusividade para a Giro pelo Oriente, da Revista VEJA.

“Eu tinha o sonho de montar o meu próprio grupo. Uma pessoa me indicou o Hyuk. Ele fez uma audição não oficial. Não entendia de música e tinha interesse em rap. Pediu para participar, eu vi que tinha potencial. Mesmo com pouca experiência, ele se dedica sem parar e quer sempre fazer o melhor”, contou Michelle Cho. “Sobre o primeiro trabalho do grupo, os fãs podem esperar algo real, algo poderoso, algo que os comoverá. Esta estreia emocionante reflete quem é o 1Verse, as jornadas inspiradoras que eles percorreram para chegar aqui e o tipo de futuro que estão prontos para construir

O primeiro membro escolhido para compor o 1Verse foi Hyuk. Aos 9 anos, ele pedia esmola nas ruas da Coreia do Norte. Fugiu do país aos 13 anos. Entre as muitas histórias tristes sofridas na infância, Hyuk contou que, uma vez, encontrou uma marmita, com comida estragada, numa estação de metrô na cidade onde vivia. Com muita fome, misturou vinagre e bicarbonato de sódio à comida. Antes que conseguisse terminar a refeição improvisada, foi surpreendido pelo dono do recipiente e agredido brutalmente. Hyuk foi incentivado pelo pai a procurar uma vida melhor. Passou por três países até chegar à Coreia do Sul, onde passou por um programa obrigatório por três meses para ajudá-lo a entender a nova realidade.

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“Antes de entrar na empresa, eu sabia muito pouco sobre a vida de idol. Eu já escrevia rap, tinha influência de Suga e de G-Dragon. Tentei estudar em algum colégio, mas não consegui. Trabalhei em uma fábrica por dois anos até ser encontrado por Michelle Cho”, contou o tímido Hyuk, que não quis entrar em detalhes sobre a sua vida na Coreia do Norte por medo de retaliação contra os seus parentes que ainda moram lá.

Também da Coreia do Norte, Kim Seok tem uma trajetória diferente. De uma família mais abastada, Seok morava perto da fronteira com a China. Ao chegar na Coréia do Sul fez educação física e foi jogador de futebol antes de vislumbrar ser membro de uma boyband.

“Eu integrava a liga de futebol local desde os 8 anos. Quando cheguei à Coreia do Sul, entrei na universidade e queria ser técnico de futebol. Eu tinha também o sonho de ser cantor, só que achava que já era muito velho. Gosto das letras de músicas que falam sobre o amor. Lembro do meu pai e da minha mãe. Quando encontrei Michelle, larguei os estudos para investir na carreira de idol. Mas ainda tenho ídolos no futebol, como os brasileiros Neymar, Vinicius Jr, Ronaldinho”.

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O japonês Aito, o chinês-americano Kenny e o californiano Nathan Kousol, último membro a entregar o grupo em dezembro de 2024, fazem da 1Verse um quinteto repleto de diversidade. Aito também não conhecia muito sobre k-pop até encontrar Michelle Cho. Ele acompanhava os grupos Super Junior, Shinee e BTS por causa da irmã mais nova.

“Meu sonho é que as pessoas conheçam a nossa música e entendam o conceito do grupo. Nós confiamos uns nos outros aqui. Tudo para mim é uma experiência nova, mas recebi muito apoio dos outros membros do grupo, todos são sempre muito gentis. Quando comecei, fiquei um pouco receoso porque a Coreia do Norte tem uma relação ruim com o Japão. Achei que os membros norte-corean os não fossem gostar de mim, o que acabou não acontecendo. O Hyuk, por exemplo, sempre me apoia”, disse Aito.

O mais falante do 1Verse, Kenny também é o produtor do grupo. E revela para quem pensa que vida de idol é só palco e mordomia, uma rotina puxada, de muito trabalho.

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“Tenho grandes desafios, entre eles, entender melhorar cultura da Coreia e a própria língua. Quero que tudo seja perfeito. Praticamos muito, os ensaios, muitas vezes, avançam pela noite. Todo cansaço vale a pena para entregar um bom trabalho”

As brasileiras foram as primeiras a terem interesse no grupo, conta Kenny, que diz gostar da música daqui e cita Pablo Vittar.

“As primeiras fãs que começaram a notar a gente foram as brasileiras. Gosto da Pablo Vittar, pioneira na nova arte, gosto da música brasileira, da celebração e da autoestima do país. Quero aprender a ter autoestima dos brasileiros”.

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Conhecido no Tik Tok, Nathan Kousol é o mais novo integrante do grupo. Nascido na Califórnia, nos EUA, ele foi confirmado como vocalista do grupo, após assinar com a Singing Beetle Entertainment. Kousol já tem singles solos lançados e participou de competições de Super Smash Bros.

É sempre bom lembrar que, enquanto os norte-coreanos brilham em um novo grupo de k-pop, os moradores do país de origem deles não poderão sequer curtir a música: o regime de Kim Jong-un tem apertado o cerco contra qualquer influência vinda da chamada k-cultura. Assistir ou compartilhar conteúdos, como k-dramas e K-pop, desde 2020, passou a ser crime passível até de pena de morte.

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