O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgará a decisão sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic, na próxima quarta-feira, 10. A expectativa do mercado é de manutenção dos juros em 15% ao ano, número estimado de forma unânime. A grande questão que chamará a atenção é o tom do comunicado do BC, que pode dar pistas de quando começará o corte de juros. Até o momento, a maioria dos analistas precificam um corte um março, mas há uma pequena parcela que ainda vê redução de juros em janeiro.
Para a equipe do UBS BB, o corte de juros não será em janeiro. O banco diz que uma medida de redução de juros na primeira reunião de 2026 seria prematura, dadas as expectativas de inflação futura ainda sem ancoragem e a previsão de inflação fora do centro da meta do Copom. “Assim, estimamos que o Copom promova o primeiro corte somente em abril, possivelmente em março, quando seu modelo deverá prever uma inflação para o sexto trimestre mais próxima da meta de 3%”, diz Rafael De La Fuente e sua equipe, que assinam o relatório do UBS BB.
O banco diz que essa expectativa é fundamentada em declarações recentes do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmar que a taxa básica de juros da economia deve permanecer elevada por um período prolongado para produzir a convergência para a inflação de 3% ao ano. “E essa convergência ainda não aconteceu”, dizem os analistas do UBS BB.
Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, segue a mesma linha do UBS. Ele diz que o corte de juros deve começar em março, quando o Copom terá novas leituras de inflação, atividade e fiscal, além de maior visibilidade sobre o ambiente externo após as primeiras decisões do Fed em 2026. “Para o corte de juros se concretizar é necessário uma acomodação mais clara das expectativas de inflação para 2026 e 2027, uma melhora no quadro fiscal e mais evidências da desaceleração da atividade econômica”, diz Belitardo.
Ele diz que o comunicado deve manter um tom neutro para levemente contracionista, reforçando a necessidade de consolidação das expectativas de inflação antes de iniciar cortes, mas já preparando o terreno para flexibilização em 2026. Segundo ele, a tendência tendência é de que o Copom deve reconhecer a melhora gradual do quadro inflacionário e da atividade, sem oferecer compromisso explícito, mas deixando claro que o próximo movimento tende a ser de redução.
A Hike Capital estima uma Selic a por volta de 11,5% ao ano no término de 2026, refletindo uma trajetória gradual de cortes ao longo do ano. “Em um cenário mais favorável, a taxa pode se aproximar de 11%, mas um ambiente fiscal mais desafiador pode manter a Selic mais próxima de 12%”, salienta Belitardo.
Matheus Cabral, banker da Guardian Capital, é mais duro e prevê a Selic a 14% ao ano ao término de 2026. Segundo ele, o ano eleitoral deve trazer preocupações para o mercado sobre a política fiscal. Por isso, ela vê a redução de juros em apenas 1 ponto porcentual com o corte de juros começando ao fim do primeiro trimestre de 2026.
Pequena parcela do mercado prevê corte de juros em janeiro
Por outro lado, outra parte do mercado aposta em corte de juros no próximo mês. Para o Itaú, a Selic deve ser reduzida em 0,25 ponto porcentual na reunião de janeiro de 2026. O banco diz que essa medida seria tomada se o Copom retirar alguns trechos do comunicado a ser divulgado. O primeiro é que o Comitê “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso julgue apropriado”. Outra frase que precisa ser retirada do comunicado seria a manutenção da Selic elevada por um “período bastante prolongado”.
“O risco de postergação do início do ciclo de cortes ainda está presente: uma surpresa positiva na atividade ou no mercado de trabalho, ou uma taxa de câmbio mais depreciada, podem adiar o início da flexibilização monetária”, afirma Mario Mesquita, economista chefe do Itaú. O banco estima que a Selic deve encerrar 2026 cotada a 12,75% ao ano.
Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de macroeconomia da Warren Investimentos, tem a mesma perspectiva, de corte de juros em janeiro. Segundo ele, a fala de Galípolo na semana passada também destacou que o período bastante prolongado não se renova a cada reunião. Segundo Vital, o próprio Galípolo disse que o mercado deve entender o bastante prolongado como uma “integral”, ou seja, acumulado desde que o BC passou a usar o termo pela primeira vez.
“Em termos práticos, essa fala foi entendida como um grande perda de relevância na expressão bastante prolongado”, aponta. “Assim, o bastante prolongado que o BC usou no último comunicado não restringe as ações futuras”, diz Vital. Além do corte de 0,25 ponto porcentual em janeiro, o especialista calcula outras reduções de subsequentes entre 0,25 ponto porcentual e 0,5 ponto porcentual, com a Selic encerrando 2026 a 12,25%.
Em suma, a maioria do mercado estima uma redução de juros a partir de março, pois a inflação ainda está distante do centro da meta. No entanto, os mais otimistas entendem que o comunicado do BC pode sinalizar um corte no próximo mês. Tudo dependerá de como será o tom do Copom, o verdadeiro motivo para economistas e investidores acompanharem a decisão de juros desta semana.