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COP30: Brasil vive escalada inédita de desastres por ciclones e frentes frias, aumento é de 1.800%

Após uma sequência de tempestades e tornados que devastaram o Sul do país, um levantamento apresentado nesta quarta-feira (13) na COP30, em Belém, mostra que o Brasil vive uma escalada inédita de desastres climáticos provocados por ciclones, frentes frias e ondas de frio.

O número de ocorrências ligadas a esses fenômenos aumentou 19 vezes em três décadas, saltando de uma média anual de 2,3 registros nos anos 1990 para 44 entre 2021 e 2024.

O estudo, produzido pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, com a Unifesp e a Fundação Grupo Boticário, contabiliza 407 desastres entre 1991 e 2024. O crescimento de 1.800% revela o impacto direto do aquecimento global sobre o regime de ventos e temperaturas no país.

“O oceano está em estado febril. A superfície do mar mais quente libera mais calor e umidade, alimentando sistemas que provocam ventos e chuvas cada vez mais fortes”, explica o professor Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar da Unifesp.

As ondas de frio respondem por mais da metade dos registros (54%), seguidas por ciclones extratropicais (38%) e frentes frias (8%). Ainda que menos frequentes, estas últimas funcionam como gatilho para parte dos episódios extremos no território nacional.

Sul e Centro-Oeste concentram 74% dos desastres

O levantamento identificou 232 municípios afetados, a maioria no interior do país (70%). Nessas áreas, predominam os impactos das ondas de frio — especialmente sobre a agricultura familiar e a produção de alimentos. Já nas cidades costeiras, 93% dos eventos estão ligados a ciclones, que vêm ganhando força e frequência.

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Os estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentram o maior aumento recente. Apenas em novembro, novas formações ciclônicas voltaram a atingir a região, deixando mortos e centenas de feridos.

Prejuízos bilionários

Desde 1991, os desastres climáticos ligados ao frio e ao mar causaram R$ 2,74 bilhões em prejuízos. Só nesta década, as perdas já superam R$ 1,5 bilhão — quatro vezes mais que na anterior.

O setor privado, com destaque para a agricultura, responde por R$ 2,5 bilhões. Já o setor público acumula cerca de R$ 200 milhões, sobretudo em danos a infraestruturas de energia, transporte e distribuição.

“Fortalecer a resiliência na cidade e no campo significa investir hoje em prevenção e adaptação de longo prazo, colocando a natureza no centro das estratégias de segurança física e econômica”, afirma Janaína Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário.

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Mais de 1 milhão de brasileiros afetados

Os desastres analisados impactaram 1,2 milhão de pessoas desde 1991. O número de afetados diretos e indiretos é 40 vezes maior que nos anos 1990.

Além das perdas materiais, o estudo aponta que 97% das vítimas sofrem efeitos emocionais e socioeconômicos, como desemprego, traumas e deslocamentos forçados.

Natureza como aliada

O relatório destaca o papel das Soluções Baseadas na Natureza (SBN), como manguezais, dunas e recifes, que reduzem o impacto de ressacas e ventos fortes nas cidades costeiras. No interior, recomenda sistemas agroflorestais, rotação de culturas e manejo eficiente da água como ferramentas de adaptação rural.

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Durante a conferência, a Fundação Grupo Boticário apresentou a plataforma Natureza ON, desenvolvida em parceria com o Google Cloud e o MapBiomas. O sistema usa dados geoespaciais para mapear vulnerabilidades climáticas e indicar soluções naturais para mitigá-las.

“Qualquer gestor público pode visualizar onde estão as maiores vulnerabilidades climáticas do seu território e quais soluções naturais podem ajudar a reduzi-las”, explica Andre Ferretti, gerente de Economia e Biodiversidade da Fundação.

O documento, intitulado A Força do M(ar): os impactos de frentes frias, ciclones e ondas de frio, faz parte da série Brasil em Transformação: o impacto da crise climática, que já abordou o aumento das chuvas extremas e o recorde de calor histórico de 2024.

COP30: o que já aconteceu

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A COP30 chega à metade com avanços importantes nas negociações sobre financiamento climático e adaptação. O Brasil anunciou novos compromissos para restaurar 60 milhões de hectares de áreas degradadas até 2035 e lançou o Fundo Amazônia+, voltado a projetos de economia verde na região.

A China manteve protagonismo, defendendo maior cooperação Sul-Sul e o fortalecimento de cadeias industriais limpas. Já os Estados Unidos, sob a administração Trump, têm sido alvo de críticas por bloquearem novos aportes ao Fundo Verde do Clima.

O debate sobre perdas e danos e o papel dos oceanos na regulação climática deve dominar os próximos dias da conferência.

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