O governo brasileiro lançou nesta quarta-feira (19), em Belém, durante a COP30, a Iniciativa de Investimento em Agricultura Resiliente e Restauração de Terras, a Raiz.
O plano pretende dar escala à recuperação de áreas agrícolas degradadas ao articular governos, organismos multilaterais e investidores privados.
Nove países já aderiram: Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Peru e Reino Unido. A expectativa é construir uma coalizão capaz de ampliar o volume e a previsibilidade dos recursos destinados à restauração de solos produtivos.
Inspirada em mecanismos como o Eco Invest, criado pelo próprio governo brasileiro para atrair capital privado para projetos sustentáveis, a Raiz aposta em instrumentos de blended finance, proteção cambial e capital catalítico para reduzir riscos percebidos pelo mercado e facilitar aportes de longo prazo.
Os números apresentados pelo governo mostram o tamanho do problema: mais de 20% das terras agrícolas do planeta, cerca de 1 bilhão de hectares, apresentam algum grau de degradação.
A reversão de apenas 10% desse total poderia recuperar 44 milhões de toneladas de alimentos ao ano, suficientes para atender 154 milhões de pessoas.
O financiamento, porém, ainda é insuficiente. O déficit global para iniciativas de restauração chega a US$ 105 bilhões. A aposta é que o setor privado possa contribuir com até US$ 90 bilhões em soluções baseadas na natureza aplicadas à agricultura.
Controle da cadeia produtiva e pressão sobre quadrilhas
Paralelamente, o governo federal usou a COP30 para anunciar um segundo movimento voltado à modernização e à segurança do setor rural.
O Ministério da Agricultura apresentará o Programa Nacional de Rastreabilidade Voluntária (PNRV), criado para ampliar o controle sobre a cadeia produtiva e reduzir a infiltração do crime organizado no agronegócio.
O plano será detalhado nesta quarta-feira (19) pelo secretário-executivo da pasta, Irajá Lacerda.
O PNRV oferecerá crédito facilitado aos produtores que aderirem a uma plataforma digital capaz de monitorar, em tempo real, a origem e o trajeto de produtos agrícolas, pecuários e insumos, da fazenda ao consumidor final.
A iniciativa pretende coibir desvios, fraudes, roubos de carga e a circulação de insumos adulterados ou contrabandeados.
Outro objetivo é agilizar a liberação aduaneira: segundo o ministério, certificação e rastreabilidade podem reduzir em até 50 horas o tempo de espera nos portos.
A fase inicial do programa abrangerá granéis vegetais de Mato Grosso destinados aos portos de Santos e Rio de Janeiro. A meta é que o sistema alcance toda a produção agropecuária brasileira, que somou 292 milhões de toneladas em 2024.
O programa integra o Agro Brasil + Sustentável, lançado em 2025, e compõe um ecossistema digital voltado à rastreabilidade, boas práticas ambientais e sustentabilidade.
A adesão será gratuita e voluntária, com benefícios como certificação de origem, redução de custos e facilitação de crédito.