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COP do ‘trabalho de formiguinha’ arrisca-se a não ter grande anúncio

Nas coletivas de imprensa que ocorrem em média duas vezes por dia nesta segunda semana da COP30, a Conferência do Clima da ONU, os jornalistas, principalmente os estrangeiros, disparam perguntas que invariavelmente giram em torno de um mesmo ponto: qual é a história que eles vão contar sobre o evento. Ou, em outras palavras, quais são as grandes decisões que podem sair das negociações em Belém (PA) que acelerem as medidas para enfrentar as mudanças climáticas.

O embaixador André Correa do Lago, presidente da COP30, costuma responder que os últimos grandes compromissos fundamentais para a implementação do Acordo de Paris foram completados na COP passada, em Baku, no Azerbaijão. O Acordo de Paris, de 2015, definiu o objetivo geral de limitar o aquecimento global em 2 graus centígrados em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para que não passe de 1,5 graus. O diplomata brasileiro afirma que, na COP30, o desafio central é efetivamente avançar na implementação desses compromissos.

Daí a profusão de temas disputando a primazia das atenções na COP30: indicadores de adaptação, financiamento para mitigação e adaptação, um plano para o fim do uso dos combustíveis fósseis, transparência de metas climáticas nacionais, integração das convenções para clima, biodiversidade e desertificação, e muito mais. A impressão que se tem é que a pauta de discussão é pulverizada, e nenhum tópico se sobressai. Daí a dificuldade de se contar “uma” história sobre a Conferência.

Além de marcar o fechamento de um ciclo das COPs, a conferência em Belém também ocorre após os Estados Unidos, segundo maior poluidor do mundo, atrás da China, se retirarem do Acordo de Maris e em um contexto de enfraquecimento do multilateralismo, ou seja, a solução das questões internacionais por meio da cooperação entre os países.

O governo brasileiro, que detém a presidência da COP30, adotou uma estratégia específica para lidar com essas dificuldades e com o fechamento desse ciclo do Acordo de Paris. “A grande inovação, e uma boa sacada, foi concentrar esforços na Agenda de Ação e implementação. Essas duas agendas não seguem estritamente o protocolo do Acordo de Paris, nem as regras formais da UNFCCC”, diz o físico Paulo Artaxo, da USP, especialista em Mudanças Climáticas. A vantagem dessa estratégia é dispensar a necessidade de construir consenso entre 196 países.

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A Agenda de Ação proposta pela presidência brasileira da COP30 procura mobilizar iniciativas voluntárias que contribuam para o cumprimento das metas do Acordo de Paris. Ou seja, é uma tentativa de envolver empresas, investidores, cidades, estados e a sociedade civil em geral (associações, ONGs, entidades científicas) e conectá-las aos esforços oficiais para implementar a agenda climática. São seis eixos temáticos que vão de transição energética a proteção das florestas, passando por agricultura sustentável e adaptação climática nas cidades, além dos meios para a implementar tudo isso, como instrumentos de financiamento e de cooperação tecnológica.

“A Agenda de Ação possibilita ao governo de um país saber que, para o cumprimento de sua meta de redução, ele vai ter apoio dos governos subnacionais e das empresas, por exemplo. É uma abordagem que envolve toda a sociedade”, diz Miriam Garcia, gerente sênior de Ação Climática do World Resources Institute (WRI) Brasil e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Na estratégia elaborada pelos negociadores brasileiros, a Agenda de Ação serve para alavancar a convicção de que o “trabalho de formiguinha”, feito de forma coordenada por milhões de entes privados e públicos de diferentes esferas, pode fazer a diferença para alcançar os objetivos definidos no Acordo de Paris, caso as negociações no âmbito da ONU  falhem em definir passos mais ambiciosos no âmbito dos governos nacionais.

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Isso não significa, porém, que as negociações formais sejam deixadas de lado. Há um grande esforço para a aprovação de dois pacotes de documentos que estão sendo discutidos pelas delegações dos países — um dos quais, que contém os quatro pontos sensíveis colocados sob consulta com as partes, mediada pela presidência da COP, e que está sendo chamado de Decisão do Mutirão, pode ser finalizado até a noite desta quarta-feira, 19.

Em coletiva na noite desta terça-feira, 18, André Correa do Lago expos o leitmotiv, a ideia central, que guia sua estratégia para construir pontes na COP30. Trata-se de distinguir o que de fato precisa ser negociado daquilo que já pode ser implementado sem precisar rediscutir consensos.

Se o resultado disso permitirá ao governo Lula apresentar uma história de que a COP em Belém foi um sucesso, ainda está para ser visto.

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