O encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, realizado no domingo (28) em Palm Beach, na Flórida, terminou sem avanços concretos para um acordo de paz que encerre a guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022. Apesar do discurso público otimista de ambos os líderes, divergências centrais seguem sem solução, especialmente sobre garantias de segurança de longo prazo e concessões territoriais.
Após a reunião em Mar-a-Lago, Trump afirmou que um acordo para pôr fim ao conflito estaria “muito mais próximo” e descreveu a conversa como “excelente”. Zelensky, no entanto, adotou um tom mais cauteloso ao relatar o conteúdo das negociações.
Em mensagens trocadas com jornalistas durante seu retorno à Europa, o líder ucraniano afirmou que os Estados Unidos discutem oferecer garantias de segurança com validade inicial de 15 anos, período que, segundo ele, é insuficiente para dissuadir futuras agressões russas.
“Falamos da possibilidade de garantias de 30, 40 ou até 50 anos”, disse Zelensky, acrescentando que Trump se comprometeu a avaliar a proposta. Desde o início das tratativas, Kyiv insiste que qualquer cessar-fogo só será viável se acompanhado de compromissos de segurança robustos por parte do Ocidente, uma posição reiterada por líderes europeus.
O encontro ocorreu em meio à intensificação dos ataques russos. Um dia antes da reunião, Moscou lançou uma ofensiva com mísseis e drones contra Kyiv, episódio que reforçou a desconfiança ucraniana quanto à disposição do Kremlin em negociar concessões substanciais. Segundo autoridades locais, o ataque deixou áreas residenciais danificadas e ao menos um morto.
Embora Zelensky tenha afirmado que cerca de 90% de um plano de paz de 20 pontos estaria acordado, não foram divulgados detalhes, e pontos sensíveis permanecem em aberto.
Entre eles está o futuro dos territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul da Ucrânia, especialmente na região de Donbas. O presidente russo, Vladimir Putin, mantém a exigência de que Kyiv retire suas tropas das áreas ainda sob controle ucraniano, condição considerada inaceitável por Zelensky.
Trump reconheceu que a questão territorial segue um dos principais entraves. “A palavra ‘acordo’ ainda é forte demais”, afirmou, mencionando divergências sobre “terra” e sobre a criação de uma eventual zona desmilitarizada. O plano inicial elaborado pela equipe de Trump, com participação russa, previa o reconhecimento formal de partes do Donbas como território russo, linha vermelha para o governo ucraniano.
O presidente ucraniano voltou a afirmar que qualquer concessão territorial exigiria um referendo nacional. “Essa terra pertence à nação ucraniana, não a um indivíduo”, disse. Ele também reiterou que aceitaria uma retirada mútua de tropas apenas se o território permanecesse oficialmente ucraniano e sob monitoramento internacional.
Após a reunião, Trump e Zelensky conversaram com líderes europeus, como o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o presidente francês Emmanuel Macron. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que houve “progresso”, mas reforçou que garantias de segurança “sólidas desde o primeiro dia” são indispensáveis.
Trump disse ainda ter mantido uma ligação telefônica de mais de duas horas com Putin antes do encontro com Zelensky e afirmou que o líder russo estaria disposto a cooperar na reabertura da usina nuclear de Zaporizhzhia, atualmente sob controle russo. O Kremlin, por sua vez, afirmou que avaliará os resultados das conversas após receber informações detalhadas do governo americano.
Enquanto isso, diplomatas europeus indicam que não esperam uma mudança significativa na postura russa. Segundo fontes ouvidas pela imprensa internacional, Moscou rejeita revisar o plano original de paz e aposta no desgaste militar e econômico da Ucrânia para impor seus termos.
Quase quatro anos após o início da invasão em larga escala, a guerra segue sem perspectiva clara de desfecho, apesar do aumento da pressão diplomática liderada por Washington.