O Congresso do Peru depôs a presidente Dina Boluarte na manhã desta sexta-feira, 10, após iniciar um processo conhecido como “destituição expressa” em meio ao agravamento de uma crise de violência que assola o país. O presidente do órgão legislativo, José Jerí, assumirá a Presidência interina até as próximas eleições, marcadas para abril de 2026. O advogado, denunciado por estupro há dois meses, prometeu “instalar e liderar um governo de transição, empatia e reconciliação nacional”.
Com a saída de Boluarte, altamente impopular e considerada gestora incompetente, o Peru continua atolado em instabilidade: foram sete presidentes nos últimos nove anos.
“Incapacidade moral”
As quatro moções de censura, apresentadas na quarta-feira 8, foram classificadas sob o conceito constitucional de “vacância por incapacidade moral permanente”. Essenciais para sua aprovação foram os votos de partidos de direita e da facção fujimorista, que até então apoiava Boluarte.
O legislativo havia intimado a chefe de Estado a apresentar sua defesa imediatamente antes de prosseguir com a votação. Mas ela se recusou a fazê-lo, considerando o procedimento inconstitucional. Após o impeachment, Boluarte apareceu, cercada por seu gabinete, para se gabar e destacar as conquistas de seu governo, embora seu perambulante discurso tenha sido interrompido pelas emissoras de TV devido à posse de Jerí. Anteriormente, circularam notícias confusas sobre a possível renúncia da presidente e um suposto pedido de asilo em algum país latino-americano. Seu advogado negou as alegações nas redes sociais.
Criminalidade
A destituição expressa foi iniciativa do partido Renovação Popular — liderado pelo prefeito de Lima, o ultraconservador Rafael López Aliaga, conhecido como Porky — devido ao aumento da violência no país. Na noite de quarta-feira, a popular banda de cumbia Agua Marina foi atacada durante uma apresentação em um complexo militar em Lima, supostamente um dos lugares mais seguros do país. Quatro integrantes do grupo foram baleados no peito e na perna. A chave para a queda de Boluarte foi o voto da Força Popular, o partido de direita liderado por Keiko Fujimori.
A agora ex-presidente assumiu o poder após uma tentativa de golpe de Pedro Castillo em dezembro de 2022, e havia conseguido manter um controle rígido do Congresso, a instituição mais desacreditada do Peru. Mas seu mandato foi marcado por uma sucessão de escândalos e polêmicas, incluindo a morte de 50 manifestantes em atos contra o governo em 2023, uma rinoplastia secreta enquanto deveria estar trabalhando, um esquema de troca de joias e relógios de luxo, e suspeitas de ter acobertado fugitivos da justiça. Sua taxa de aprovação estava na casa dos 3%, por um tempo a pior do planeta. Mas a onda de crimes no Peru foi o golpe derradeiro.