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Como se deu a ascensão e queda da esquerda na Bolívia

A vitória de Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), nas eleições presidenciais na Bolívia neste domingo, 19, marcou o fim do domínio de 20 anos da esquerda no país. Agora, cinco dos 12 países da América do Sul estão sob comando da direita. Na Bolívia, a guinada conservadora ocorre após uma sucessão de escândalos econômicos e políticos, incluindo uma tentativa de golpe em junho. É reflexo também do racha interno do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que estava no poder desde a eleição de Evo Morales.

O MAS foi fundado em 1995, mas com nome de Instrumento Político para a Soberania dos Povos (IPSP). De pouco em pouco, a sigla foi ganhando espaço nas eleições municipais e nacionais. Foi no início dos anos 2000 que, ao engatar na ascensão política dos movimentos sociais, conseguiu arrematar 35 cadeiras no Parlamento boliviano, encerrando o controle das três grandes forças conservadoras no legislativo: Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e Ação Democrática Nacional.

No pleito municipal de 2004, o partido esquerdista viria a se tornar a “principal força eleitoral com a obtenção de 18,5% do total dos votos e a vitória em 101 dos 327 municípios”, de acordo com a Enciclopédia Latinoamericana. Mas o triunfo mais proeminente ocorreria com a eleição de Evo Morales no ano seguinte, acompanhada da conquista da maioria na Câmara de Deputados e quase a metade do Senado. Reeleito duas vezes, Morales permaneceria no poder até 2019, quando renunciou após protestos por suspeita de fraude eleitoral.

Na época, a contagem de votos foi interrompida por mais de 24 horas. As urnas já estavam 83% apuradas e apontavam um segundo turno entre Morales e seu rival, Carlos Mesa. Quando o processo foi retomado, mostrava uma vitória apertada para o presidente em exercício, o que levou a oposição a acusá-lo de fraudar o resultado. Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) revelou cédulas adulteradas e assinaturas falsificadas, além de indicar que a vitória de Morales era estatisticamente improvável.

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Queda da esquerda

Morales alegou ser alvo de um “golpe civil, político e policial”, mas acabou por renunciar e fugiu para o México e, mais tarde, para a Argentina. O vácuo de poder foi ocupado pela então segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, até eleições em 2020. Ex-ministro da Economia, Luis Arce saiu vencedor do páreo. Seu mandato, contudo, foi marcado por uma progressiva deterioração da economia e pela escassez de dólares e de combustível. No ano passado, o país entrou em recessão. Terreno fértil para o aumento da insatisfação popular.

Ao mesmo tempo, disputas políticas entre Arce e Morales enfraqueceram o Movimento ao Socialismo. O ex-presidente retornou à Bolívia apenas 11 meses após o exílio e, em pouco tempo, demonstrou afastamento de Arce. Em 2023, anunciou sua candidatura presidencial para as eleições de 2025, em desafio ao antigo aliado. Morales acusou o governo de tentar barrar a sua candidatura e prometeu uma “convulsão” no país caso fosse impedido de disputar, enquanto Arce alegava que o agora adversário tentava implementar um “cenário de crise estrutural no país” para “encurtar” o seu mandato.

Em maio, Arce desistiu de competir à reeleição e lançou Eduardo del Castillo como candidato. Em paralelo, Morales tentava consolidar a candidatura de Andrônico Rodrigues, que rompeu com o MAS e concorreu sem o apoio oficial da legenda. Resultado: os dois ficaram de fora do segundo turno, disputado pela direita. Neste domingo, 19, Rodrigo Paz derrotou o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre. Ele assumirá o comando do governo boliviano em novembro sob a promessa de oferecer “capitalismo para todos”, promover o desenvolvimento econômico e reduzir a polarização. Tarefa difícil em um país rachado. 

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