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Como o Superman espelha seus criadores, filhos de imigrantes

No  domingo, 6 de julho, o cineasta James Gunn provocou a ira da ala trumpista americana ao dizer que o Superman — herói que retrata no filme homônimo com estreia marcada para quinta-feira, 10 — seria um imigrante. “Ele é a história dos Estados Unidos, a história de um imigrante que veio de outro lugar e populou o país. Sobretudo, para mim, é uma trama que advoga pela gentileza humana básica como valor”, disse ao jornal The Times U.K. Rapidamente, o noticiário Fox News retrucou a fala com um trocadilho: “Superwoke“. O argumento de Gunn, porém, tem validez que remonta aos dois criadores do personagem: o quadrinista Jerry Siegel e o ilustrador Joe Shuster.

Siegel e Shuster nasceram em 1914. O primeiro, nos Estados Unidos, e o segundo, no Canadá. Ambos vieram de famílias judaicas que fugiam dos violentos pogroms e do crescente antissemitismo na Europa, que chegaria ao apogeu com a Segunda Guerra Mundial. O par compartilhava outra semelhança: eram filhos de alfaiates. Em 1934, o canadense se mudou para Ohio e trombou com o colega no Ensino Médio. A conexão foi imediata. Eles eram tímidos, amavam ficção científica e não se sentiam exatamente iguais aos garotos anglo-saxões que os rodeavam. Após criarem o Superman, nenhum dos dois chegou a categorizar o personagem como alegoria para a experiência judaica na primeira metade do século XX, mas — propositalmente ou não — povoaram as aventuras do personagem com referências e paralelos tão substanciais que até um livro já foi escrito sobre o assunto, Is Superman Circumcised? The Complete Jewish History of the World’s Greatest Hero (“O Superman É Circuncisado? A História Judia Completa do Maior Herói do Mundo“, 2021, sem publicação no Brasil).

Dentre os tais paralelos, o mais óbvio é a origem do personagem. Superman é, na verdade, Kal-El, um alienígena original de Krypton. Com o planeta em ruínas, seus pais decidem tratá-lo como Moisés, o colocam em uma nave espacial e o enviam para a Terra, com a esperança de que assim o garoto possa crescer e perseverar, mantendo vivas as tradições de seu povo.

No filme dirigido por Gunn, o status extraterrestre do personagem o coloca em maus lençóis com o governo americano, que chega a contê-lo por infringir a política nacional sem ter as credenciais apropriadas para tal, como são detidos imigrantes carentes da documentação exigida no país real. A trama também demonstra a devoção do personagem a qualquer humano oprimido por meio do conflito fictício entre um país carregado de armamento potente e outro composto por camponeses que se mobilizam com pouco, o qual alguns espectadores já apontam como referência à atual guerra em Gaza.

Apesar das interpretações políticas densas que o filme oferece, contudo, Superman é primordialmente um blockbuster hollywoodiano com fins de entreter. A moral do filme é clara e descomplicada: o herói só quer proteger os inocentes e menos afortunados, independente de qualquer variável.

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