Durante um painel sobre mudanças climáticas na COP30, o presidente Lula tratou de um tema incômodo para o governo brasileiro: a contradição entre defender a redução das emissões de gás carbônico (substância responsável pelo aquecimento global), ao mesmo tempo em que sustenta um aumento da exploração de petróleo, especialmente na margem equatorial da Amazônia.
“Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento”, disse, na presença de outros chefes de Estado.
A postura, criticada por diversos ambientalistas, tenta empurrar o compromisso da transição energética para as nações mais desenvolvidas, dentro do espírito das “reponsabilidades comuns, porém diferenciadas”, que pauta toda a discussão sobre o clima.
A lógica é a de que os países em desenvolvimento não podem ser penalizados, depois que as nações ricas obtiveram ganhos ferindo o meio ambiente. Em outras palavras: “eles” que paguem a conta.
O Brasil, de fato, tem condições que o favorecem. O uso de biocombuistíveis na matriz de transporte chega a 23%, enquanto no mundo desenvolvido, não passa de 2%. Além disso, 90% da matriz energética brasileira é limpa, enquanto boa parte da Europa e dos Estados Unidos dependem de geração de energia por meio de queima de carvão mineral e gás natural.
Ao apresentar tais números, o governo brasileiro sinaliza para o resto do mundo que está adiante na corrida pela melhora das condições no clima e que, portanto, pode seguir explorando petróleo. Nada disso, porém, muda um fato inquestionável: mais carbono na atmosfera vai dificultar ainda mais a redução da temperatura na Terra.
Pragmaticamente, a avaliação do governo é a de que a exploração de petróleo não irá acabar em função dos apelos dos ambientalistas, por mais enfáticos que sejam. É dado como certa que o abandono dos combustíveis fósseis irá se dar pela redução do preço – á medida em que novas tecnologias renováveis se tornem mais baratas e viáveis – e pelo cutso de se retirar o combustível do subsolo.
Como a Petrobrás detem uma tecnologia de exploração em águas profundas, o cálculo é que a utilização de petróleo siga sendo vantajosa por, pelo menos, mais 15 anos. Para os ambientalistas, se o Brasil quer, de fato, se mostrar como superpotência ecológica, precisa mudar o discurso.
Ele pode até estar afiado, mas é certo que a contradição existe e a parolagem não ajuda a derrubar os termômetros.