Michelle pode não se sentir confortável nesse jogo, ainda mais quando o aliado em questão é alguém que atacou repetidas vezes Bolsonaro e seu eleitorado, chegando a afirmar que parte dos apoiadores do ex-presidente era composta por “nazistas”.
Para quem vive a política como extensão da lealdade familiar, esse tipo de histórico pesa mais do que qualquer acordo regional.
Outra hipótese é mais simples: Michelle talvez não dê a menor importância aos ritos partidários do PL. O partido é, na essência, uma engrenagem do centrão, acostumada a operar alianças amplas e pouco ideológicas. Nesse ambiente, ela é um corpo estranho — uma liderança que fala diretamente ao público bolsonarista, dispensa mediação e não parece preocupada em pedir licença antes de agir.
Há ainda quem veja no ato um possível balão de ensaio para um voo solo. Michelle pode estar testando até onde consegue se firmar como a “resistência moral” do bolsonarismo enquanto Bolsonaro está preso e os filhos tentam administrar o espólio político. É cedo para dizer se essa interpretação se sustentará. As próximas semanas e a reação do PL darão pistas.
Por ora, o que se sabe é que o caso do Ceará escancarou uma disputa silenciosa: quem, afinal, terá a palavra final sobre o futuro do bolsonarismo? Michelle parece sugerir que não aceitará ficar à margem. O partido parece indicar que prefere outro desenho.
O choque entre esses dois movimentos está apenas começando. O tempo dirá qual deles prevalece.