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Como empresas como a SpaceX tentam impulsionar avanços da medicina no espaço

Foguetes, sistemas de comunicação, estações espaciais… e laboratórios farmacêuticos. Muito além das confusões recentes e sem fim, o bilionário Elon Musk está prestes a dar um novo empurrão na história da exploração do universo lá fora. Sua companhia, a SpaceX, quer estudar e fabricar remédios longe da Terra. A ideia, ambiciosa, é usar as naves Starship para projetar medicamentos e outros produtos em cápsulas e testá-los em ambientes sem gravidade a milhares de quilômetros de distância da nossa órbita. O programa, batizado de Starfall, começa a sair do papel — e antes mesmo de decolar já chama atenção, dado o fascinante passo. A meta é usar propriedades únicas dos meios extraterrestres para desenvolver fórmulas inovadoras e inéditas de fármacos. Na ausência de gravidade, as reações químicas tendem a formar cristais maiores e com menos defeitos, com resultados mais puros.

O mercado é promissor. Um estudo da consultoria McKinsey aponta que o segmento espacial deverá alcançar 1,8 trilhão de dólares até 2035 — valor que engloba tanto as operações de foguetes e satélites quanto oportunidades para empresas expandirem sua atuação fora da órbita da Terra. Assim como a SpaceX, outras startups seguem as mesmas aspirações científicas. A americana Varda Space Industries anunciou a captação de 187 milhões de dólares em uma rodada liderada por dois fundos de investimentos. A proposta é fabricar remédios no espaço usando sistemas robóticos. Desde que enviou a primeira cápsula, em 2023, a Varda já concluiu quatro missões de lançamento e recuperação do material enviado, e com aplaudido sucesso. Uma quinta missão está em órbita, e a sexta deve ser enviada antes do fim de 2025. Testes feitos com o ritonavir, medicamento usado no tratamento do HIV, se mostraram animadores. De acordo com o CEO, Will Bruey, com os novos recursos a Varda pretende construir um laboratório capaz de fornecer a primeira formulação de remédio habilitada para microgravidade do mundo. Isso porque, nessa conjuntura, não é possível garantir que comprimidos tradicionais funcionem como ocorreria em condições normais.

CONDIÇÕES ÚNICAS - Pesquisa da Varda: testes para o tratamento do HIV
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O entusiasmo pavimentou outro belo movimento, cujos resultados demorarão ainda a brotar, porque assim caminha a humanidade quando olha para cima. A Estação Espacial Internacional (ISS), compartilhada por uma dezena de países, sob a liderança dos Estados Unidos e da Rússia, em raro balé de diplomacia, mantém um laboratório para pesquisas relacionadas à saúde humana. Em parceria com a Nasa, a própria SpaceX enviará uma equipe no fim do ano com o objetivo de estudar nosso organismo em missões para o espaço profundo, incluindo as futuras expedições com destino a Marte. Há vários trabalhos em andamento que visam não apenas a proteger os astronautas do impacto causado por períodos prolongados de gravidade zero, mas também desenvolver tratamentos que poderão ser aplicados posteriormente em pacientes aqui no nosso cantinho.

Um dos cientistas que já realiza pesquisas com a ISS é o médico Abba Zubair, da Clínica Mayo. Especialista em terapia regenerativa, ele foca seu trabalho em células-tronco e futuros tratamentos para derrame, osteoporose e leucemia. Ao enviar amostras para o espaço, Zubair busca entender como a ausência de gravidade e a exposição à radiação afetam o desenvolvimento dessas células. Os resultados devem apontar maneiras mais eficientes de manipulá-las, o que poderá aprimorar estratégias que vão de curativos biológicos a transplantes de medula. Em casos mais extremos, tratamentos inteiros poderiam ser conduzidos no espaço, se isso se provar viável e mais assertivo. Ainda há muito caminho pela frente, mas, a exemplo de outras indústrias, como a de materiais e a de computação, o setor farmacêutico também quer pisar lá fora. E, quem sabe, pequenos passos nos laboratórios espaciais representem um grande salto para a medicina.

Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955

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