Existem atrizes de Hollywood. E existem estrelas. Mas há também as lendas — aquelas da era de ouro, quando não bastava ser bonita: era preciso atuar, cantar, dançar e encantar: era preciso ter o tal star quality. Mulheres como Rita Hayworth, Audrey Hepburn, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor transformaram talento em magnetismo puro, eternizando o glamour dos estúdios em vestidos deslumbrantes e joias de outro mundo. Hoje, criar uma lenda é raro. São poucas as que conseguem reacender essa aura mágica. Uma delas, porém, é Nicole Kidman.
Foi o que ela fez no desfile-espetáculo Vogue World: Hollywood, realizado nos lendários estúdios da Paramount, em Los Angeles: diante das câmeras, ela reviveu Put the Blame on Mame, o clássico número da femme fatale Rita Hayworth em Gilda (1946). O gesto não era apenas uma homenagem, mas uma espécie de reencarnação cinematográfica: a nova Gilda surgia diante dos nossos olhos, envolta em mistério, poder e seda preta da Chanel.
Assinado por Matthieu Blazy, o vestido de Nicole era composto por um bustiê de cetim preto drapeado e adornado com camélias de cetim, que remetia ao icônico vestido usado por Rita Hayworth na cena original, inspirado no quadro Retrato de Madame X (1884), de John Singer Sargent. Um dos figurinos mais emblemáticos da história do cinema, que Blazy reinterpretou com seu toque contemporâneo em drapeados assimétricos e flores, mas com a elegância eterna de Coco Chanel. Para completar, um colar Chanel Fine Jewelry Diamant Évanescent, com centenas de diamantes lapidados. Sim, a atriz encarnava uma diva de Hollywood em carne, osso e luz.
No caso dela, nada mais natural que fosse Chanel. O laço entre a atriz e a maison francesa vem de longa data — quem esquece o icônico comercial do Chanel nº 5, dirigido por Baz Luhrmann em 2004? Com o mesmo vestido, aliás, que ela voltou a usar no Met Gala 2023. E como se o destino brincasse de roteiro: foi Luhrmann quem a dirigiu novamente nos bastidores do Vogue World, megafone em punho, orientando cada gesto. Momentos depois, Kendall Jenner surgiu usando o figurino original de Kidman em Moulin Rouge, dirigido por ele em 2001 – como se fechasse um ciclo de cinema e moda, mas, ao mesmo tempo, mostrando que Nicole – assim como Gilda – também cria tendências (nem é preciso dizer que esse vestido já virou objeto de desejo absoluto da grife)
Blazy sabe disso. Não à toa, a nomeou como embaixadora da Chanel, reforçando sua posição como ícone fashion atemporal “A moda é uma vida artística paralela. Às vezes é uma armadura. Às vezes é brincalhona, às vezes sexy”, disse ela à Vogue América. “Depende do meu humor. Às vezes é andrógina, às vezes é meio que… dane-se”, completou Nicole, que também é estrela da espanhola Balenciaga.
Ou seja, se a velha Hollywood tinha Gilda, a nova tem Nicole. E não coloque a culpa na Mame — coloque a culpa em Matthieu Blazy.
