Uma cabeleireira brasileira se tornou o centro das discussões políticas na Índia nesta semana. A mineira Larissa Nery, de 29 anos, nunca pisou no país asiático, mas acabou envolvida em uma crise marcada por denúncias de fraude eleitoral. Tudo começou na quarta-feira 5, quando o líder da oposição indiana, Rahul Gandhi, divulgou uma lista com 22 eleitores que possuíam nomes e endereços distintos — com apenas uma coisa em comum: todos usavam a mesma foto de Nery.
O episódio aconteceu durante uma coletiva de imprensa, onde Ghandi acusou o partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o BJP, de fraudar as eleições do estado de Haryana em 2024. Segundo ele, cerca de 2,5 milhões de eleitores — em um universo de quase 20 milhões — eram irregulares, incluindo perfis duplicados e com endereços inválidos. O político apresentou um compilado que mostrava diferentes eleitores com a foto de Nery,
“Quem é essa senhora? Quantos anos ela tem? Ela vota 22 vezes em Haryana”, questionou o líder da oposição.
Ghandi afirmou que Nery era uma modelo, e que sua foto, tirada pelo brasileiro Matheus Ferreiro, foi utilizada em diferentes perfis eleitorais falsos, todos com nomes distintos, como Seema, Saraswati e Sweety. A repercussão do caso foi gigantesca na Índia, e de imediato, muitos internautas e profissionais da imprensa passaram a se manifestar nas redes sociais da cabelereira.
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“No começo, eram algumas mensagens aleatórias. Eu pensei que eles estavam me confundindo com outra pessoa”, disse Nery em entrevista à emissora britânica BBC. “Até que me enviaram o vídeo onde meu rosto aparecia em um telão. Inicialmente pensei que era IA ou algum tipo de piada. Mas quando muitas pessoas começaram a enviar mensagens ao mesmo tempo, percebi que era real”.
Moradora de Belo Horizonte, Nery confirmou que é a pessoa nas imagens, mas esclareceu que nunca foi modelo. “Sim. Sou eu. Muito mais jovem, mas sou eu”, disse a cabelereira. Segundo ela, as fotos foram tiradas em 2017, quando ela tinha 21 anos. “O fotógrafo achou que eu era bonita e pediu para tirar fotos minhas”, contou. A mineira não tinha ideia do impacto que os registros causariam oito anos depois.
“Eu não fui trabalhar de manhã por não conseguir ver as mensagens dos meus clientes”, conta Nery, enfatizando o volume de mensagens que recebeu após a apresentação de Ghandi. “Tive que remover o nome do salão do meu perfil porque eles estavam atrapalhando meu local de trabalho. Meu chefe até falou comigo. Algumas pessoas tratam isso como um meme, mas está me afetando profissionalmente”, lamentou.
Nery nunca esteve na Índia e ainda tenta compreender em qual tipo de trama política sua imagem acabou envolvida. “Fiquei com medo”, confessou na entrevista à BBC. “Não posso dizer se é perigoso para mim ou se falar sobre isso pode prejudicar alguém lá. Não sei quem está certo ou errado porque não conheço as partes envolvidas”, disse a cabeleireira, que anseia por retornar à normalidade.
O partido governista Bharatiya Janata Party (BJP, ou Partido do Povo Indiano, em tradução livre) negou todas as acusações feitas por Gandhi. Horas após a coletiva, o escritório do Chefe Eleitoral de Haryana publicou uma carta na rede social X, onde eles alegam ter solicitado ao líder da oposição que assinasse um juramento junto aos nomes dos eleitores irregulares “para que os procedimentos necessários fossem iniciados”.