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Como as tarifas de Trump prejudicaram aliança entre Brasil e EUA em terras raras

A progressiva deterioração das relações entre Estados Unidos e Brasil, resultado das taxas de 50% a produtos brasileiros e das sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prejudicou negociações entre os dois países sobre a exploração de terras raras no território brasileiro, mostrou uma reportagem do jornal americano The New York Times nesta quarta-feira, 21.

O NYT afirmou que, de maneira discreta, Washington e Brasília vêm discutindo “durante anos” o investimento americano no desenvolvimento de formas de extração dos valiosíssimos metais das terras raras brasileiras, as segundas maiores do mundo, atrás apenas da China. O impulso à iniciativa teve palco no governo do ex-presidente Joe Biden, que enviou representantes americanos em cinco visitas ao país entre 2022 e 2024, mas entrou em declínio na administração Trump devido à crise diplomática EUA-Brasil.

A negociações, apesar do incentivo de Biden, ainda estavam em “estágio inicial”, segundo o jornal americano. As tarifas de Trump aos produtos brasileiros em resposta à “caça às bruxas”, como o republicano definiu, ao ex-presidente Jair Bolsonaro enterraram, pelo menos por enquanto, os planos. Bolsonaro, aliado de Trump, está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.

Pouco antes da imposição das tarifas, os Estados Unidos sinalizaram que o acesso aos minerais estratégicos brasileiros era fator imprescindível para as tratativas comerciais. A exigência não foi recebida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que enxergou a demanda inflexível uma ameaça à soberania do Brasil. No mês passado, o petista disse que “ninguém põe mão” nas terras raras, destacando: “Este país pertence ao povo brasileiro”.

Panorama das terras raras

Estima-se que o Brasil seja lar de 19 a 23% das reservas globais de terras raras, que incluem 17 elementos vitais para fabricação de imãs usados em uma série de produtos, de carros elétricos a mísseis. Ao todo, as reservas contêm cerca de 21 milhões de toneladas desses minérios. A extração e separação, contudo, são complicadas, e o único país a ter se especializado no assunto nos últimos anos foi a China, tornando-se uma especialista no mercado. O know-how chinês leva à dependência de outras nações a Pequim, um perigo para os EUA.

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A China controla 40% dos depósitos mundiais e domina a cadeia global desses suprimentos. O Palácio do Planalto e a Casa Branca ganhariam, então, com a aliança, destacaram autoridades brasileiras e ex-funcionários americanos ao The New York Times. De um lado, o Brasil poderia se tornar uma potência na extração e processamento dos minérios; do outro, os EUA reduziriam a sua dependência ao fornecimento chinês.

Planos do Brasil

No momento, apenas uma mina brasileira, a Serra Verde, produz os minerais em pouca quantidade, que ainda precisam ser enviados para a China para processamento. Segundo o NYT, o Brasil tem planos de construir uma cadeia nacional, englobando minas e fábricas de imãs. Até pouco tempo, os EUA vinham ajudando na ideia. No ano passado, investidores americanos e britânicos investiram US$ 150 milhões (mais de R$ 2,7 bilhões) na Serra Verde como parte de uma iniciativa apoiada pelo governo dos EUA, informou o jornal.

Mas o grau de pressão do governo Trump levou os planos a irem por água abaixo. Em julho, duas semanas após as ameaças tarifárias do republicano ao Brasil, o encarregado de negócios americano, Gabriel Escobar, passou a ser mais “insistente”, disse o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, ao The New York Times. “Ele deixou o interesse dos Estados Unidos em minerais estratégicos críticos muito claro, muito explícito”, afirmou Jungmann.

Qualquer forma de interferência estrangeira nos recursos brasileiros é vista com maus olhos pelo governo Lula. O interesse intransigente “provocou raiva e suspeita”, relatou o veículo americano. Agora, o Brasil procura por outros parceiros para a empreitada, como a Índia, membro do Brics. Ao mesmo tempo, tem estudado suas jazidas com incentivo de uma empresa de mapeamento espanhola e trabalhado para aprimorar a capacidade de processamento através de uma parceria público-privada apoiada por mais de 20 de empresas e grupos de pesquisa internacionais. A porta de oportunidade parece, dia após dias, estar se fechando para Trump.

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