O recuo acelerado das geleiras pode estar desencadeando uma reação explosiva no subsolo: o aumento da atividade vulcânica.
No centro dessa hipótese está a observação de que a diminuição da massa de gelo altera a pressão exercida sobre a crosta terrestre e, consequentemente, favorece o surgimento de magma.
Pesquisas recentes aprofundam esse cenário na Islândia e indicam que o fenômeno pode se repetir em diferentes regiões do planeta.
Na Islândia, a combinação geológica é singular: o país repousa sobre a dorsal mesoatlântica, fronteira entre placas tectônicas onde o magma sobe com facilidade, e possui dezenas de vulcões ativos, muitos deles cobertos por camadas de gelo.
Segundo modelagens climáticas, a maior parte das geleiras pode desaparecer em poucas centenas de anos.
Quando o gelo recua, ele alivia a enorme pressão exercida sobre as rochas abaixo. Esse alívio permite que o ponto de fusão das rochas diminua, facilitando a formação de magma.
Em muitos casos, o solo mesmo se eleva e, em algumas zonas da Islândia, o levantamento tem sido de 2 a 3 cm por ano.
Dados geofísicos recentes indicam que esse processo já pode estar em curso: sob vulcões como o Askja, por exemplo, foram detectados sinais de “inchaço” (inflation) que sugerem acúmulo de magma.
Ainda que não haja previsão exata de erupção, os cientistas alertam que esse tipo de indicador exige atenção.
Esse padrão, gelo derretendo, pressão caindo, magma ascendendo, não se limita à Islândia. Em estudo recente sobre seis vulcões no sul do Chile, foi constatado que, após retirada de geleiras, a probabilidade de erupção aumentou e o estilo das erupções se tornou mais explosivo.
Estima-se que cerca de 245 vulcões em todo o mundo estejam sob ou próximos de massas de gelo e, portanto, em maior risco.
Diante desse panorama, surge o alerta de que a emergência climática pode ter uma ramificação pouco discutida: a instabilidade geológica.
O derretimento das geleiras libera não apenas água, mas também estabilidade geofísica. Em regiões densamente povoadas próximas a vulcões, como a Cordilheira dos Andes, isso traz implicações concretas para abastecimento de água, risco de deslizamentos ou fluxos lamacentos e evacuações.
Por fim, ainda que não se possa afirmar que toda erupção seja diretamente causada pelo aquecimento global, a comunidade científica concorda que o fator do degelo cria condições mais propícias para a atividade vulcânica e que este é um tema que exige monitoramento rigoroso.