O Comitê Olímpico Internacional (COI) encerrou sua colaboração com o Comitê Olímpico e Paralímpico Saudita (SOPC). A parceria visava desenvolver os Jogos Olímpicos de Esports. A Esports World Cup Foundation (EWCF) também estava envolvida na cooperação.
Esports (ou esportes eletrônicos) são competições profissionais de video games. A grande diferença é que, em vez de um campo físico, a “modalidade” é um jogo eletrônico, como League of Legends, Valorant, Call of Duty e Rainbow Six. Existem jogadores e equipes profissionais que treinam intensamente, competem em ligas e torneios organizados, e disputam prêmios em dinheiro, muitas vezes em grandes arenas lotadas ou com milhões de pessoas assistindo pela internet.
O anúncio do fim da parceria foi feito nesta quinta-feira, 30. O acordo, inicialmente assinado em julho de 2024, terminou após apenas 14 meses. As partes concordaram mutuamente em encerrar a cooperação.
O acordo original foi firmado na véspera dos Jogos de Paris em 2024. A primeira edição dos Jogos Olímpicos de Esports estava planejada para Riad, na Arábia Saudita, que seria a sede por 12 anos.
Em fevereiro, o COI já havia anunciado o adiamento do evento para 2027. Na época, os organizadores citaram a necessidade de mais tempo para criar um plano adequado. A EWCF foi designada como parceira fundadora para ajudar na organização.
Fontes indicam que o colapso do acordo se deveu a atritos e ambições individuais. Há relatos de que tanto o COI quanto os sauditas buscavam “controle absoluto sobre os torneios de Esports”.
A mudança de liderança no COI foi um fator chave. O acordo foi fechado pelo então presidente Thomas Bach. No entanto, após Kirsty Coventry assumir a presidência, em junho, as negociações azedaram.
Um dos pontos de discórdia foi a governança do esports. O lado saudita propôs criar uma federação própria de esports. A nova presidente, Coventry, não aprovou a proposta. Segundo fontes, ela acreditava que essa nova estrutura não ofereceria um processo democrático. O COI tradicionalmente exige que organizadores trabalhem com federações existentes.
Houve também pressão por parte do COI para que a delegação saudita incluísse mulheres em posições de liderança. Além disso, havia divergências sobre as regras de participação de diferentes nações.
Jogos violentos
Outro desafio era a escolha dos jogos. O COI busca alinhar os títulos de esports com os “valores Olímpicos”.
A Arábia Saudita já sedia a Esports World Cup, que inclui jogos populares, mas frequentemente violentos. Títulos como Call of Duty e Counter-Strike “há muito tempo representam um desafio” para o COI apoiar. O ex-presidente Bach havia reforçado que os jogos precisariam “respeitar os valores Olímpicos”.
Com o fim da parceria, ambos os lados se comprometeram a seguir seus próprios planos para o esports.
A Arábia Saudita, que investe bilhões em eventos esportivos como parte de sua estratégia “Vision 2030”, segue forte no setor. O país já organiza a Esports World Cup.
A EWCF, financiada pelo Fundo de Investimento Público (PIF) saudita, anunciou a criação da Esports Nations Cup (ENC). Este novo torneio, com competições entre nações, está planejado para ocorrer a cada dois anos. A Nations Cup inaugural está prevista para Riad, em novembro de 2026.
O COI, por sua vez, prometeu “desenvolver uma nova abordagem”. A organização buscará um novo modelo de parceria. O objetivo principal do COI é realizar os Jogos Olímpicos de Esports inaugurais “o mais rápido possível”. Singapura foi mencionada como uma potencial cidade anfitriã para substituir Riade.
O COI vê os Esports como uma forma importante de se conectar com o público mais jovem, já que sua base de fãs tradicional está envelhecendo. A decisão de romper o lucrativo pacto com a Arábia Saudita mostra a “disposição [da nova presidente Kirsty Coventry] em tomar decisões difíceis” e o alto valor que o COI atribui à sua marca e valores.