Após romper a tradição da televisão aberta e investir em novelas para o streaming, a TV Globo deu mais um passo em sua teledramaturgia ao anunciar, nesta semana, a produção da primeira novela vertical de sua história. O projeto aposta em capítulos curtos – de 1 a 5 minutos – gravados em tela vertical, no formato de reels, e para serem consumidos principalmente em dispositivos móveis, via Globoplay e TikTok. O movimento segue uma tendência mundial. Plataformas como Kwai e ReelShort já colecionam milhões de visualizações com suas mininovelas, voltadas sobretudo para o público jovem. Nesse modelo, o que importa é a história acelerada e repleta de ganchos, com episódios que muitas vezes não passam de dois minutos – um contraste evidente com as longas narrativas exibidas na televisão. Para alguns especialistas, porém, a essência permanece a mesma.
“É um novo formato de dramaturgia, como aconteceu nos anos 1940 e 1950, no auge da fotonovela. Aquilo também era uma novela, neste caso fotografada para uma revista. Você só vai modificando a maneira de contar, de acordo com o tipo de consumo de cada época”, explicou à coluna GENTE o consultor e doutor em Teledramaturgia pela USP, Mauro Alencar. Ele lembra ainda que muitos telespectadores já acompanham produções clássicas da TV em cortes para as redes, como ocorre com Vale Tudo.
Além de apostar no formato para disputar espaço com plataformas já consolidadas neste mercado, a Globo investe em nomes capazes de atrair engajamento imediato. Com mais de 21 milhões de seguidores nas redes sociais, Jade Picon, 23, foi escalada para viver a vilã na novela. Para Alencar, a estratégia remete novamente às fotonovelas. “Talvez seja uma forma de chamar alguém que seja ligado a este universo, e isso pode abrir caminho para outros grandes atores, como aconteceu na época das fotonovelas. Nomes de prestígio eram chamados justamente para ampliar o alcance, como Susana Vieira, 83, que contracenou com Jerry Adriani (1947-2017), então muito popular”, lembrou. A nova produção, aliás, também contará com uma veterana da TV: Lília Cabral, 68.
Mais do que uma mudança estética, a novela vertical representa uma tentativa de sobrevivência e renovação do folhetim. Em um cenário em que a atenção do espectador é disputada segundo a segundo, adotar novos formatos pode ser a saída para manter viva a tradição da dramaturgia brasileira – ainda que em histórias contadas em “capítulos de bolso”.