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Com Bolsonaro na cadeia, amplia-se o racha na extrema-direita

A extrema-direita perdeu Jair Bolsonaro para a cadeia. Se nada mudar, ele estará recluso — num apart-cela ou em casa — até novembro de 2050, quando deverá completar 95 anos de idade.

Esse é um caso em que a punição política supera a penalidade criminal. Ele já estava inelegível até 2030. Por lei, agora está expulso do jogo eleitoral até 2060. É sentença para vida toda, para ser cumprida até o seu aniversário de 105 anos — se a biologia permitir.

Antes de confessar a tentativa de violação da sua tornozeleira eletrônica com um ferro de soldar, numa noite solitária de sábado (22/11), Bolsonaro deixou claro que se sente cômodo no papel de referência política da extrema-direita, mas não tem nem pretende ter sucessor.

Filhos parlamentares até se insinuaram num peculiar delírio dinástico, dissipado com habilidade e discrição por Valdemar da Costa Neto, controlador do registro do Partido Liberal na Justiça Eleitoral.

A confusão no clã Bolsonaro cresce à medida em que se espraia no Partido Liberal a percepção de que está cada vez mais reduzido o “espaço” dos filhos parlamentares.

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Eduardo, 41 anos, sequer é considerado como alternativa eleitoral, em qualquer nível, porque criou reputação típica de suicida político ao clamar por uma intervenção do governo Donald Trump no país para impedir o julgamento do seu pai por tentativa de golpe de estado.

Carlos, 42 anos, encontrou resistência significativa e inesperada ao seu projeto de abandonar a cadeira de vereador carioca para se candidatar ao Senado por Santa Catarina, estado onde seu pai obteve sete em cada dez votos no segundo turno contra Lula em 2022.

Flavio, 44 anos, enfrenta dificuldades com alianças para tentar a reeleição ao Senado no Rio, base eleitoral da família. Era deputado estadual em 2018 quando se elegeu senador à sombra do pai — na época, o candidato presidencial preferido de sete em cada dez eleitores fluminenses (quatro anos depois, ficou limitado a 56% dos votos).

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A perspectiva da prisão de Bolsonaro levou Valdemar Costa Neto a uma revisão das fragilidades do clã no mapa eleitoral de 2026. Ele sabe o que significa controlar o partido diretamente da cadeia durante uma campanha eleitoral.

No 5 de dezembro de uma dúzia de anos atrás, ele se apresentou no portão da Penitenciária da Papuda, em Brasília, para cumprir sentença sete anos e dez meses de prisão no caso Mensalão, do primeiro governo Lula. No presídio, Costa Neto realizou uma proeza: organizou o Partido Liberal para as eleições de 2014 com o auxílio do seu mais antigo aliado, Antônio Carlos Rodrigues — deputado federal paulista cuja expulsão recentemente foi incentivada pelos filhos parlamentares de Bolsonaro.

Costa Neto, agora, privilegiou a ex-primeira-dama Michelle como porta-voz do clã na composição de chapas em alguns Estados para a eleição do próximo ano. Os filhos parlamentares não gostaram, mas em vez de reação às escolhas de Costa Neto preferiram derramar críticas à pré-candidata do PL ao Senado no Distrito Federal.

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É a única do clã que fez comícios para o PL em praticamente todos os Estados nos últimos 24 meses. Ex-secretária parlamentar, se prepara para estrear nas urnas como militante radical do movimento antiaborto. Esteve em Fortaleza, no fim de semana, no palanque do senador Eduardo Girão (Novo-CE). Ele quer ser o candidato da direita cearense ao governo estadual.

Girão é um empresário que virou político cultivando hábitos exóticos, como o de carregar no bolso réplica plástica de um feto. Michelle o defendeu, no comício, como fiel seguidor de Bolsonaro. E criticou a “precipitada” aliança do PL local com Ciro Gomes, quatro vezes candidato à presidência e possível candidato do PSDB ao governo estadual — ele foi prefeito da capital e governo o Estado nos anos 1990. “Autoritária”, qualificaram filhos parlamentares de Bolsonaro na mais suave das críticas, divulgada em rede social.

A extrema-direita não só perdeu o seu principal cabo eleitoral para a cadeia. Também perdeu a bússola e o rumo no jogo eleitoral para 2026. O racha está exposto na família, no Partido Liberal e em estados relevantes — São Paulo, Minas Gerais, Rio, Santa Catarina e Ceará, entre outros.

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