Um artigo do jornal britânico Financial Times, publicado na terça-feira 22, lança duras críticas ao tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em especial ao caso brasileiro. Intitulado “Trump, Imperador do Brasil”, o texto afirma que a imposição de taxas de 50% contra produtos importados do país faz parte de um padrão de “incontinência imperial”.
Para o colunista e editor do FT Edward Luce, o governo americano atua para “promover autocracias”, como a Turquia, atingida por uma alíquota de apenas 10% embora tenha relação comercial superavitária com os Estados Unidos, enquanto “pune democracias irmãs”, como o Brasil e o Canadá. Ele relembra também a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que Trump foi eleito presidente dos EUA, “não imperador do mundo”.
“Se há um farol livre e democrático hoje em dia no hemisfério, ele vem de Brasília e Ottawa. Por enquanto, Washington está fora de cogitação”, escreveu o jornalista.
Quando Trump anunciou a imposição de tarifas ao Brasil a partir de 1º de agosto, ele citou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, que o americano chamou de uma “caça às bruxas”. De acordo com o colunista, os paralelos entre Trump e Bolsonaro são evidentes — “a diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado” na Justiça, argumenta.
Além de Trump, Luce critica também a postura do secretário de Estado americano, Marco Rubio, lembrando que ele anunciou a revogação do visto americano de Alexandre de Moraes, ministro do STF que é relator do processo contra Bolsonaro e de outras investigações que tangem o os Estados Unidos – como a que envolve desinformação nas redes sociais e Big Techs.
A coluna afirma ainda que, apesar de um tarifaço ser obviamente negativo, estar do outro lado do ringue com Trump pode fazer bem à popularidade de líderes. “Em queda nas pesquisas? Rumo ao esquecimento eleitoral? Mark Carney, do Canadá, Anthony Albanese, da Austrália, e agora Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, têm uma solução para você. Faça com que Donald Trump lance uma guerra comercial contra o seu país. Poucas coisas unem os eleitores em torno da bandeira mais rápido do que um ataque de uma superpotência às suas receitas”, ironiza.
O imbróglio
Há duas semanas, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros devido ao que definiu como uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo governo Lula.
O petista respondeu à ameaça, frisando que o “Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Lula também disse que o “processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
Na quinta passada, Trump deu continuidade à queda de braço ao publicar uma carta endereçada a Bolsonaro, reforçando críticas à Justiça brasileira e um suposto “regime de censura”. Segundo ele, o governo brasileiro realiza “ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos EUA”. O americano ainda afirma que espera que “o governo do Brasil mude de rota, pare de atacar oponentes políticos e termine seu regime de censura”, acrescentando: “Vou estar observando de perto”.
“Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente!”, disse Trump.
E na sexta-feira 18, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciou em seu perfil no X que os vistos de Moraes, seus familiares e seus aliados serão revogados. A decisão foi vista como uma retaliação aos atos do ministro do STF contra Bolsonaro, que foi alvo de uma operação da Polícia Federal por atos de obstrução de Justiça e risco de fuga. Ele está proibido de ter contato com governos estrangeiros e é obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
“O presidente Donald Trump deixou claro que seu governo responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura de expressão protegida nos Estados Unidos. A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil, atingindo os americanos. Portanto, ordenei a revogação dos vistos de Moraes e seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos, com efeito imediato”, anunciou.
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.
Moraes supervisiona a acusação contra o ex-presidente e também vem travando batalhas contra as Big Techs americanas para reprimir a desinformação online. Essa “censura” percebida provocou a ira da direita americana e do magnata da tecnologia Elon Musk, cuja plataforma X estava na mira do ministro.