O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, acusou nesta quinta-feira, 23, os Estados Unidos de cometer “execuções extrajudiciais” através de ataques a barcos no Caribe e no Pacífico. Em coletiva de imprensa em Bogotá, o líder colombiano disse acreditar que as manobras ordenadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, acabam por “violar o direito internacional” e representam um “uso desproporcional da força que é punido pelo direito internacional humanitário”.
“O mar do Caribe está repleto de navios de guerra, aeronaves navais e mísseis (dos Estados Unidos)“, continuou Petro. “Inclusive, um pescador de Santa Marta foi assassinado em seu barco. Quando anularam a certificação antidrogas, achamos muito paradoxal e, obviamente, recebemos isso como se fosse um insulto.”
No domingo, 19, Trump chamou Petro de “barão da droga” e prometeu cortar financiamento e subsídios dados à Colômbia, sugerindo também que forças americanas poderiam realizar ações no país. As ameaças vieram em meio à crescente tensão militar entre a Venezuela e os EUA. Até o momento, nove ataques americanos foram contabilizados, com 37 mortos. Um deles foi realizado na costa da Colômbia, como confirmou o secretário da Defesa americano, Pete Hegseth, nesta quarta-feira, 22.
“Ontem (terça-feira, 21), sob a direção do presidente Trump, o Departamento de Guerra (como foi rebatizada a pasta de Defesa) conduziu um ataque cinético letal a uma embarcação operada por uma Organização Terrorista Designada e que realizava narcotráfico no Pacífico Oriental”, escreveu Hegseth no X, antigo Twitter. “Nossa inteligência sabia que a embarcação estava envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitava por uma rota conhecida de narcotráfico e transportava entorpecentes.”
Petro, por sua vez, condenou o bombardeio e alegou que o barco pertencia a uma “família humilde”, e não à guerrilha colombiana batizada de Exército de Libertação Nacional (ELN), como argumentou Hegseth. Ao menos três pessoas morreram. Ele também chamou de volta o seu embaixador nos Estados Unidos, Daniel García-Peña, em gesto diplomático que frisa a insatisfação com o governo Trump. Na coletiva desta quinta, Petro rebateu as acusações do republicano: “O senhor Trump me caluniou e insultou a Colômbia”, disse.
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Briga antiga
Petro, o primeiro presidente de esquerda da história do país e conhecido pela articulação com o venezuelano Nicolás Maduro, tem sido uma das vozes regionais mais críticas contra a ofensiva americana na costa do Caribe. O ocupante da Casa branca, por sua vez, acusa Bogotá de ser cúmplice no tráfico ilícito de drogas.
No mês passado, Petro teve o visto revogado pelos Estados Unidos por ter participado de um ato pró-Palestina enquanto ele estava em Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas, em que pediu aos soldados americanos que desobedecessem às ordens de Trump. O presidente colombiano acusou Washington de violar o direito internacional devido às suas críticas às ações de Israel em Gaza.
A briga escalou por conta da situação na Venezuela. Trump autorizou a CIA, a agência de inteligência americana, a realizar operações em solo venezuelano, inclusive terrestres, com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro — a indicação mais clara de que poderia haver, de fato, uma invasão.