À medida em que as negociações da COP30 avançarem, um sinal ortográfico assumirá um papel ultra relevante na formulação do texto final da conferência, que será apresentado no proximo dia 21: o colchete [esse aqui, para quem não conhece].
São os colchetes que passasão a abraçar aqueles termos mais controversos, mas que são importantes para definir as políticas climáticas. Dependendo de como o texto é formulado, elas podem definir, por exemplo, se determinada medida é mandatória, ou não.
Por isso, os países membros que integram as plenárias passam horas – às vezes dias -, definindo os termos exatos colocados entre colchetes. “Quando se entra no processo de formulação de uma decisão, nem todo mundo vai concordar com a sentença toda, então precisa destacar o que não é consenso, para ver se o texto fica ou sai”, explica Natalie Unterstell, presidente do Instituto Tanaloa. “Uma coisa é o conteúdo que está sendo discutido, outra é a forma de comunicá-lo”.
As edições anteriores da COP foram marcadas por muitas discussões em torno de textos finais. Uma das mais emblemáticas ocorreu em Dubai, em 2023, quando pela primeira vez o mundo decidiu que deveria “se afastar” das fontes de petróleo. Antes de chegar a essa expressão cogitou-se as palavras “transição gradual” e “eliminação gradual”.
Os países produtores e dependentes de petróleo pressionaram e acabaram suavizando o texto final, o que levou a uma discussão quase semântica em torno de uma das decisões mais importantes já tomadas em COP’s. Muitas nações entendem que esse compromisso é apenas um indicador sobre o caminho a seguir e não uma medida obrigatória.
Quem participa da COP na condição de sociedade civil também pressiona os governos para incluir determinados termos nos colchetes. É o jeito de garantir que determinadas agendas sejam contempladas pela ONU. “Um monte de gente vem com uma agenda única e faz o que for necessário para ver sua causa refletida no texto final, mas é preciso ter cuidado. Não é porque determinada palavra entrou ou deixou de entrar que a decisão é boa ou ruim”, diz Natalie.