O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rechaçou uma pergunta sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi — opositor da monarquia de Riad que foi morto e desmembrado por agentes sauditas no consulado do país em Istambul, na Turquia, em 2018 — durante uma reunião com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, na Casa Branca, nesta terça-feira, 19.
“Você está mencionando alguém que foi extremamente controverso. Muitas pessoas não gostavam desse senhor de quem você está falando. Gostando dele ou não, as coisas acontecem”, disse Trump no Salão Oval. “Ele (MBS) não sabia de nada, e podemos deixar por isso mesmo.”
“Você não precisa constranger nosso convidado fazendo uma pergunta dessas”, afirmou ele à repórter Mary Bruce, correspondente veterana da emissora americana ABC News na Casa Branca, responsável pela pergunta.
A declaração de Trump contraria um relatório da CIA, a agência de inteligência estrangeira dos EUA, divulgado em 2023. O documento apontou que “o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, aprovou uma operação em Istambul, na Turquia, para capturar ou matar o jornalista saudita Jamal Khashoggi”.
A avaliação foi embasada no controle que MBS “exerce sobre a tomada de decisões no Reino, no envolvimento direto de um conselheiro-chave e de membros da equipe de proteção de Muhammad bin Salman na operação, e no apoio do príncipe herdeiro ao uso de medidas violentas para silenciar dissidentes no exterior, incluindo Khashoggi”.
O príncipe saudita assistiu à discussão impassível no Salão Oval. Em seguida, definiu a morte de Khashoggi como “um erro enorme”, acrescentando: “Sobre o jornalista, é realmente doloroso ouvir falar de alguém que perdeu a vida sem um propósito real ou de forma ilegal, e isso tem sido doloroso para nós na Arábia Saudita”. Ele, contudo, afirmou que as autoridades sauditas tomaram “todas as medidas corretas de investigação” e que o reino está “fazendo o possível para que isso não aconteça novamente”.
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Quem era Jamal Khashoggi

Khashoggi era colunista do jornal americano The Washington Post e era conhecido pelas duras críticas ao governo da Arábia Saudita — segundo a ONG Anistia Internacional, “defensores dos direitos humanos e outras pessoas que exerciam seus direitos à liberdade de expressão e associação foram submetidos a prisões e detenções arbitrárias, julgamentos injustos que resultaram em longas penas de prisão e proibições de viagem” no país, além de casos de “julgamentos flagrantemente injustos” que levaram opositores à morte.
Em resposta, o The Post publicou um editorial que salientou como os comentários de Trump “desonram o legado de Khashoggi, contradizem os fatos e são indignos do cargo de presidente”. A esposa de Khashoggi, por sua vez, afirmou à emissora americana CNN que ser “controverso” não justifica um assassinato. Ela o definiu como “um homem bom, transparente e corajoso”, concluindo: “O príncipe herdeiro disse que estava arrependido, então ele deveria se encontrar comigo, pedir desculpas e me indenizar pelo assassinato do meu marido.”
Durante seu primeiro mandato, Trump praticamente ignorou o possível envolvimento do príncipe bin Salman no assassinato de Khashoggi, embora tenha se descrito como “extremamente irritado e muito infeliz” com o crime. De volta à Casa Branca, Trump passou a cultivar ativamente as relações com a Arábia Saudita, incluindo uma visita a Riad em maio para discutir acordos de segurança. A família de Trump tem negócios no reino, embora o presidente tenha descartado qualquer participação nos investimentos encabeçados pelos seus filhos.
A relação entre Estados Unidos e Arábia Saudita é antiga, com uma base de cooperação econômica desde o início da exploração de petróleo saudita, em 1933. Embora muitas crises tenham ocorrido de lá para cá, como a presença de 15 sauditas entre os terroristas da Al-Qaeda que orquestraram os ataques de 11 de setembro de 2001, os interesses financeiros em comum das nações sustentaram os laços.